O Estado de S. Paulo

Alta do dólar será novo vilão das contas de luz

Impacto do aumento da moeda americana na energia da usina de Itaipu pode representa­r reajustes entre 3,7% e 9,5% na tarifas

- Renée Pereira

A escalada do dólar deve ser o novo vilão da conta de luz dos brasileiro­s. Além dos efeitos da estiagem, que neste ano representa­ram aumentos superiores a 50%, agora é a moeda americana que vai pressionar os próximos reajustes tarifários das distribuid­oras do Sul, Sudeste e Centro-Oeste. A explicação está na cota que cada empresa tem de energia da Hidrelétri­ca de Itaipu, calculada em dólar.

Cálculos feitos pela comerciali­zadora Comerc mostram que apenas o impacto da moeda americana na fatia de energia da usina binacional pode representa­r aumentos entre 3,7% e 9,5% na conta de luz. As maiores altas devem ocorrer naque- las distribuid­oras que ainda não tiveram reajuste neste ano, como é o caso de Bandeirant­e, CPFL Piratining­a e Light. No reajuste extraordin­ário, ocorrido em janeiro, quando o governo repassou para a tarifa parte das oscilações do câmbio, o dólar estava na casa de R$ 2,80. Nas últimas semanas oscilou entre R$ 3,70 e R$ 4,22.

Na Bandeirant­e, que atende 28 municípios de São Paulo, o dólar na energia de Itaipu poderá representa­r 8,8 pontos porcentuai­s dentro do reajuste anual, calcula a Comerc, que considerou um câmbio médio de R$ 4. Na carteira de energia da empresa, 19% do total vem de Itaipu. Ou seja, qualquer oscilação no dólar tem impacto relevante nas contas da companhia.

O mesmo ocorre com a CPFL Piratining­a, distribuid­ora que atende 27 municípios do interior e litoral de São Paulo. Pelos dados da Comerc, a parcela do reajuste devido a alta do dólar poderá chegar a 9,5 pontos porcentuai­s. Segundo a empresa, os valores ainda estão em fase de avaliação pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Na Light, o reflexo no aumento anual poderá chegar a 8,4 pontos porcentuai­s. “Essa é a previsão de aumento fora a inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo)”, diz o presidente da Comerc, Cristopher Vlavianos.

O presidente da Associação Brasileira de Distribuid­ores de Energia Elétrica (Abradee), Nelson Fonseca, explica que as empresas sentem o impacto do aumento do dólar simultanea­men- te, mas só podem repassar para o consumidor na data dos reajustes. Segundo ele, se não tiver alteração no cenário energéti-

Oscilações O efeito do câmbio na energia de Itaipu é registrada numa conta chamada CVA, que reúne custos não gerenciáve­is pelas empresas. Na data do reajuste, os valores são repassados para a tarifa.

co, o câmbio deve ser o item que mais vai contribuir para o aumento das tarifas em 2016. “Mas não podemos prever em que nível os reajustes ficarão. Há uma série de incertezas que não permite previsões.” Uma delas é a questão da hidrologia. Se não chover o suficiente, o País terá novamente de acionar as térmicas, mais caras.

Outro fator que pode representa­r pressão sobre a tarifa são os leilões que vão ocorrer nos próximos meses. Se o valor ficar acima do praticado hoje, a diferença será repassada para a tarifa do consumidor.

A lista de incertezas inclui liminares que algumas empresas conseguira­m na Justiça. Uma delas requer pagamento de R$ 3,7 bilhões pelas distribuid­oras – leia-se consumidor. A Abradee conseguiu decisão judicial favorável às associadas. Mas, se a liminar cair, os valores seriam repassados para as tarifas.

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