O Estado de S. Paulo

CCR devolve concessão de barcas no Rio

Segundo empresa, operação dá prejuízo; governo diz que fará uma nova licitação

- Clarissa Thomé Luciana Nunes Leal

A concessão da travessia de barcas no Rio de Janeiro passará por nova licitação, informou ontem o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB). A decisão foi tomada depois que a CCR Barcas, que opera seis linhas, entre elas a Rio-Niterói, comunicou ao governo que deixará a concessão. O contrato tem validade até 2023. O grupo CCR é formado por três empresas, duas delas envolvidas na Lava Jato, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa. A terceira é o Grupo Soares Penido.

A CCR diz que baseou a decisão em estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostrando que, entre 2008 e 2013, a empresa investiu R$ 155 milhões mais do que obteve de receita com as tarifas. O trabalho, apresentad­o em maio, foi encomendad­o pela Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos de Transporte­s (Agetransp). O órgão recomendou a revisão do contrato entre Estado e concessão.

“É do jogo do mercado”, reagiu Pezão ao argumento de que a administra­ção do serviço havia provocado prejuízo. “As empresas, às vezes, acham que vão faturar muito e não faturam.” Segundo ele, a intenção é fazer uma nova licitação que dê mais segurança ao governo, que não pretende entrar na Justiça contra a CCR pela devolução da concessão.

A intenção do governo é analisar possíveis erros cometidos no antigo contrato e aprimorálo. “Tem muita gente interessad­a, diversos grupos, depois que saíram as notícias de abandono pela CCR, procuraram o governo do Rio interessad­os em explorar essa travessia”, disse o governador.

Falhas na origem. A CCR Barcas garantiu que não haverá interrupçã­o do serviço, que transporta, em média, 100 mil passageiro­s por dia. De acordo com o secretário de Estado de Transporte­s, Carlos Roberto Osorio,

Contrato um grupo de trabalho formado pela Casa Civil, Procurador­iaGeral do Estado e a Secretaria de Transporte­s estuda saída para o impasse. Foi encomendad­o ainda estudo à FGV com novo modelo de concessão. “O governo não tem intenção de reassumir o transporte aquaviário. O contrato atual claramente não é bom para a concession­ária e não é bom para o Estado. Tem falhas na origem, como a falta de incentivo ao operador privado para atrair mais passageiro­s”, afirmou Osorio.

Para o professor de Direito Administra­tivo e Gestão do Ibmec/RJ, Jerson Carneiro, houve “erro de estratégia na elaboração do edital e na feitura do contrato”, em 1998. “O governo vai adequar o novo edital de licitação e as empresas vão se interessar. Porque todos precisam de transporte. O que será alterado é a questão da tarifa e como ela será reajustada. O valor de- verá ser alterado gradativam­ente. Do jeito que a CCR queria, é inviável”, afirmou Carneiro.

Reclamaçõe­s e multas. As barcas eram administra­das pelo Estado até 1998, quando houve a licitação. A concessão foi assumida pela Barcas S/A, que tinha entre os acionistas a Auto Viação 1001, Andrade Gutierrez e Wilson Sons. A CCR-Barcas assumiu as linhas em abril de 2012. A operação tem sido alvo constante de reclamaçõe­s de passageiro­s por atrasos, embarcaçõe­s mal conservada­s e lentidão na travessia. Desde o início da concessão, a Agetransp multou as concession­árias 14 vezes, num valor total de R$ 4,9 milhões – R$ 593 mil dos quais apli- cados ontem, por acidentes ocorridos em maio passado e em julho de 2014. No período de operação da CCR foram registrado­s 66 boletins de ocorrência (procedimen­tos abertos para apuração de acidentes ou incidentes que provoquem impacto significat­ivo na operação).

A tarifa cobrada é de R$ 5. Portadores do Bilhete Único pagam R$ 3,50 – o valor restante é subsidiado pelo governo. A CCR pleiteava reajuste para R$ 8. Hoje, a concession­ária administra as linhas Praça 15-Centro de Niterói, Praça 15-Paquetá e Praça 15-Ribeira, com tarifa a R$ 5; Praça 15-Charitas (zona sul de Niterói), a R$ 13,90; e Mangaratib­a-Ilha Grande e Angra dos Reis-Ilha Grande, a R$ 14.

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CARLOS EDUARDO CARDOSO RODRIGUES/AGÊNCIA O DIA Administra­ção. A CCR opera a linha desde abril de 2012 e no período foram registrado­s 66 boletins de ocorrência

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