Números preocupantes e perguntas da sociedade
Não têm faltado análises pessimistas sobre os próximos tempos no País, enunciadas por políticos, cientistas sociais, jornalistas e outros. Entre elas, por exemplo, nas páginas deste jornal (11/10), a do ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda José Roberto Mendonça de Barros. Diz ele nunca ter visto uma crise como a atual, “em que tudo parece dar errado e não há saída”. A seu ver, “o governo atual não vai até 2018”, envolvido em crise política, desemprego crescente e perda de 1,5 milhão de postos de trabalho, noticiário abundante sobre escândalos de corrupção e muito mais.
Entre as análises mais recentes de instituições especializadas, está a da agência de classificação de risco Fitch, que rebaixou a nota do Brasil, de BBB para BBB-, e prevê retração de 3% para a economia este ano e mais 1% em 2016 (Agência O Globo, 17/10). E a do Instituto Internacional de Finanças (IIF), para quem o retrocesso no produto i nterno bruto (PIB) irá a 3,2% até o fim deste ano e 2% em 2016 ( Estado, 22/10). O Fundo Monetário Internacional é também pessimista, com previsão de taxa negativa de 3% para a economia em 2015 (8/10). Além disso, a renda média do brasileiro está caindo neste ano cerca de 3% mais que a inflação (Celso Ming, 17/10) – com perspectiva de manter esse rumo no ano que vem.
IBC-Br(17/10), Focus (27/10) e IIF (22/10) alinham-se entre os que preveem para 2015 recuo do PIB de 3% para cima. O IBCBr aponta toda a economia – com exceção do agronegócio e do setor exportador – em queda. O próprio governo federal prevê recuo de 2,8%. O IIF adverte que “não há caminho fácil, ante a baixa popularidade do governo”, os desdobramentos da Lava Jato e o envolvimento de políticos em escândalos financeiros (22/10). Pergunta: vai-se conseguir um ajuste fiscal que melhore a situação e permita chegar a eleições em 2018? Ou seguiremos no caminho da tentativa de impeachment?
Noticiário de jornais atribui a aluguel mais caro e desemprego crescente a nova proliferação de favelas em São Paulo ( Fo- lha de S.Paulo, 26/8). Entre 2008 e 2015 o aluguel médio subiu 98%, ante inflação em torno de 54%. De certa forma, nada a estranhar, já que, segundo editorial deste jornal (10/8), nada menos que 56% da população mundial está na categoria de “baixa renda” e só 13% na de “renda média”. Estaríamos fora? E, segundo Angus Deaton (Global Viewpoint, reproduzido em 21/10), “pobreza é mais que falta de dinheiro” – é também falta de calorias, de saneamento, de saúde e muito mais.
Não haverá ainda alívio num panorama de inflação indesejável em 2016, como acreditam que ocorrerá os analistas ouvidos pelo boletim Focus, do Banco Central (27/10). Mas há quem preveja balança comercial com superávit de US$ 14 bi- lhões em 2015 e US$ 26,3 bilhões em 2016.
Na verdade, muito do que acontecerá vai depender do estado de ânimo da sociedade – e nessa área será decisivo como se mostrará o mercado de trabalho. Nas últimas semanas ocorreram fatos importantes, como a entrada em vigor da Lei das Domésticas e do Estatuto dos Artesãos, que beneficiam por vários caminhos setores dos mais necessitados. A taxa de desemprego em seis regiões metropolitanas caiu após oito meses seguidos de alta e ficou em 7,6% em setembro (IBGE, 23/10) – 2,7% acima da taxa de setembro de 2014, o maior nível desde 2009 (com 420 mil novos desempregados em um ano). A renda média do trabalhador, descontada a inflação, caiu 0,8%.
O número de inativos sem trabalho e sem procurar emprego aumentou 30,6% em nove anos e chegou a 51,1 milhões em 2013 (IBGE). A população economicamente ativa (que trabalha ou está em busca de ocupação) aumentou 13,6% e chegou a 101,9 milhões de pessoas ( Estado, 18/12/14). O rendimento real médio dos que trabalham caiu dos R$ 2.279 de setembro de 2014 para R$ 2.180 em setembro deste ano (menos 4,4%). A massa de salá- rios baixou (Unicamp, 4/9).
Quase 10% do PIB será transferido em 2015 para o sistema bancário, em razão das altas taxas de juros, diz o professor Marcio Pochmann, dessa mesma universidade, para quem “esse quadro põe um ponto de interrogação numa trajetória de redução da desigualdade”. Segundo ele, também contribui o fato de que no ano passado “R$ 100 bilhões deixaram de ser arrecadados para os cofres públicos em função de desonerações para empresas” – ou seja, menos recursos para programas sociais do governo. O déficit do governo federal fica em R$ 82 bilhões. E “o cenário internacional compromete (...). Nós sofreremos com o regime de baixo dinamismo no mundo, mas temos as nossas questões a serem resolvidas internamente”.
Não bastasse, são também complexos e delicados os quadros da Previdência Social e da saúde, inclusive porque se inclui no déficit da Previdência o que ela paga de aposentadoria ao funcionalismo público federal, que a recebe integral, como na ativa. São polêmicas igualmente as visões sobre os novos formatos para tempos de aposentadoria, discutidos no Congresso, que poderão provocar novos custos (o aumento das despesas levará a Receita Federal a monitorar o patrimônio de 3.857 empresas que são devedoras de R$ 380 bilhões ( Estado, 9/10).
Na área da saúde, como complicadoras, basta transcrever as palavras ( Estado, 28/9) do ex-ministro Artur Chioro, para quem o atendimento público no setor pode “entrar em colapso” em 2016, pois está numa situação “inadministrável”. Os recursos terminam em outubro. “Samus, hospitais, prontos-socorros, transplantes, serviços de hemodiálise, clínicas não terão como funcionar”.
Como se sentirão diante de tudo o que foi descrito neste artigo o trabalhador de menor salário o desempregado, o operário não especializado, o eleitor? Como responderão a corporação política e os governos em todos os níveis? Que resultará no mundo da política e no cotidiano da sociedade?
Como se sentirão diante da atual situação do País o trabalhador de menor salário, o desempregado?