O Estado de S. Paulo

Para tentar controlar crise, Lula e PT recuam nas críticas a Joaquim Levy

- Vera Rosa Ricardo Galhardo /

A cúpula do PT recuou ontem das críticas mais ácidas ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e decidiu não mais cobrar a demissão do comandante da economia. A pedido do Palácio do Planalto e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que também voltou atrás no bombardeio contra Levy, o Diretório Nacional do PT aprovou, por 47 votos a 26, uma resolução política que poupa o ministro e dá apenas leves estocadas na política econômica.

A estratégia também faz parte de um esforço para amenizar a crise no governo, depois que Lula responsabi­lizou a presidente Dilma Rousseff pela ação de busca e apreensão da Polícia Federal na empresa de seu filho caçula, Luís Claudio, na última segunda-feira, em São Paulo.

Oito horas após abrir a reunião do PT, Lula jantou com Dilma e com os ministros Jaques Wagner (Casa Civil), Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), além do presidente do partido, Rui Falcão, no Palácio da Alvorada. Contou a ela que havia feito um discurso “para cima”, na abertura do encontro, e pedido apoio para as medidas de ajuste fiscal.

“Vamos tocar em frente. As coisas estão difíceis, mas vão melhorar”, disse ele, de acordo com relato de um dos participan­tes do encontro. Há dez dias, em conversas reservadas com Dilma e também com deputados do PT, Lula afirmou que Levy tinha “prazo de validade” e defendeu a sua substituiç­ão. A retórica de ontem, no entanto, foi bem diferente.

Diante da plateia petista, o ex-presidente admitiu que Dilma venceu a disputa do ano passado contra o senador Aécio Neves (PSDB-MG) com um discurso contrário ao ajuste fiscal, mas, depois, foi obrigada a re-

Discurso ver tudo o que havia prometido.

“Nós tivemos um grande problema político, sobretudo na nossa base, quando tomamos a atitude de fazer o ajuste que era necessário fazer”, reconheceu o ex-presidente. “Ganhamos as eleições com um discurso e, depois, tivemos que mudar o discurso e fazer o que dizíamos que não íamos fazer.”

Para Lula, a sociedade quer que Dilma dê um sinal de que está governando o País porque “ninguém aguenta” passar mais seis meses discutindo ajuste fiscal. “Vocês agora falam ‘Fora Levy’ como já falaram ‘Fora Palocci’”, lembrou o ex-presidente, numa referência a Antônio Palocci, que foi ministro da Fazenda entre 2003 e 2006. “Mas ninguém quer arrumar a economia mais rápido do que a Dilma. A única condição de a gente voltar a ter o prestígio que o PT já teve é recuperand­o a economia.”

Com todos esses recados, a resolução aprovada pelo Diretório do PT desbastou ainda mais as críticas à política econômica feitas no 5.º Congresso do partido, em junho. Na ocasião, o coro “fora Levy” também havia sido abafado, por ordem do Palácio do Planalto, mas o PT conseguiu expressar na Carta de Salvador suas principais divergênci­as em relação às medidas propostas pelo ministro.

Governabil­idade. O documento que passou ontem pelo crivo dos petistas, porém, diz apenas que o movimento para recuperar as condições de governabil­idade tem mais chances de êxito “se acompanhad­o por mudanças na política econômica que o PT vem sugerindo desde a realização do 5.º Congresso, em Salvador”.

Emoutras seis linhas, o partido também condenou os cortes nos gastos sociais, nos investimen­tos públicos e considerou “extremamen­te positiva” a proposta de recriação da Contribuiç­ão Provisória sobre Movimentaç­ão Financeira (CPMF). Os petistas pediram, ainda, medidas que aumen- tem a tributação sobre a renda e a propriedad­e dos mais ricos, “ao mesmo tempo em que o governo reduz seus gastos financeiro­s, através do rebaixamen­to paulati- no da taxa de juros”.

Na última hora, a direção do PT retirou da resolução final um parágrafo dizendo que o ajuste fiscal e a reforma ministeria­l com maior peso conferido aos partidos de centro provocavam “tensões e divisões”. Embora não citasse o PMDB, o texto não deixava dúvidas sobre a quem os petistas se referiam.

Questionad­o por que motivo o parágrafo foi retirado da resolução, Falcão afirmou que o partido achou melhor evitar mais ruídos. “A gente não quer que isso seja mal interpreta­do”, argumentou Falcão. O presidente do PT, que já chegou a pedir a saída do ministro da Fazenda, disse ontem que nunca pregou o “Fora Levy”. “Eu não ‘fulanizo’ esse debate”, comentou.

Seis correntes do PT, mais à esquerda, apresentar­am uma proposta de resolução cobrando mudanças radicais nos rumos da economia, “para gerar empregos e recompor salários”, mas foram derrotadas.

Lula Em discurso na reunião do Diretório do PT ontem, Lula defendeu Levy e afirmou que “não dá” para ficar mais seis meses discutindo o ajuste fiscal

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Ato partidário. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursa durante reunião do Diretório Nacional do PT, em um centro de convenções de Brasília
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ANDRE DUSEK/ESTADÃO Juntos. Lula (esq.), Berzoini e Dilma (dir.), no Planalto
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