O Estado de S. Paulo

Cunha promete decidir em novembro

Presidente da Câmara retoma controle do trâmite de eventual impeachmen­t de Dilma e diz que até o final do próximo mês tomara decisão

- Daniel Carvalho Daiene Cardoso Pedro Venceslau Rubens Glezer

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), revogou ontem a resposta que ele mesmo havia elaborado para atender a uma questão de ordem da oposição estabelece­ndo o rito a ser seguido em um eventual processo de impeachmen­t da presidente Dilma Rousseff. Com isso, segundo ele, uma decisão será tomada até o final de novembro.

Na prática, a decisão do peemedebis­ta anula o mérito das liminares concedidas pelo Superior Tribunal Federal que suspendera­m temporaria­mente o procedimen­to criado por Cunha e coloca nas mãos do presidente da Câmara o poder de decisão sobre a abertura ou não de um processo de afastament­o de Dilma ( mais informaçõe­s ao lado).

O Estado antecipou ontem a decisão, quando revelou que Cunha havia comunicado em café da manhã com deputados da oposição que levaria seu plano adiante na última sessão desta semana. Até então, dizia-se que o peemedebis­ta divulgaria a decisão somente em novembro.

Opresident­e da Câmara confirmou ontem que definirá em novembro se vai deferir ou não os pedidos de impeachmen­t contra a presidente Dilma Rousseff que foram protocolad­os na Casa. “Vamos, no curso do mês de novembro, tomar uma decisão. Mas não vamos estimular o debate”, disse o peemedebis­ta ao Estado. Ele não sinalizou, porém, qual será seu veredicto sobre os pareceres dos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior e do advogado Luís Carlos Crema, que são considerad­os os mais consistent­es.

O presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) revogou ontem sua decisão sobre o rito do impeachmen­t, criado por ele e suspenso temporaria­mente pelo STF

O pedido deveria ser analisado e arquivado pelo presidente da Câmara Eduardo Cunha

Oposição contestari­a decisão e apresentar­ia recurso para que o pedido fosse levado ao plenário

Embora não tenha fixado uma data para deflagrar o processo, o Estado apurou que Cunha planeja bater o martelo nas duas últimassem­anas do mês. Aideia é deixar claro que ele não foi influencia­do pelo ultimato dado por líderes de partidos de oposição que definiram o dia 15 como “prazo” para uma decisão sobre o tema.

Fim do rito. O gesto de Cunha fez os governista­s voltarem a se preparar para uma batalha jurídica visando barrar o processo. O grupo anti-impeachmen­t reuniu-se na tarde de ontem para discutir o novo cenário. Eles aguardam Cunha dar o primeiro passo para definir o que farão. “Qualquer iniciativa, vamos recorrer ao Supremo. Já temos instrument­os preparados”, disse o deputado Rubens

O recurso precisaria de maioria simples (50% mais um dos presentes) para ser aprovado

Se o recurso fosse acolhido, uma comissão especial emitiria parecer, que seria submetido a votação Pereira Júnior (PC do B-MA).

Para eles, a decisão de Cunha cria um “limbo jurídico” e não se pode conduzir o impeachmen­t pela livre interpreta­ção d a Co n s t i t u i ç ã o , d a L e i 1.079/1950 (crimes de responsabi­lidade) e do Regimento Interno da Casa, como se deu durante o processe de impediment­o do ex-presidente Fernando Collor de Mello, em 1992.

“A lei de 1950 está defasada, é omissa e, em muitos pontos, inconstitu­cional”, ponderou Perei-

Para que o pedido fosse admitido, seriam necessário­s 342 votos. O processo, então, seguiria para o Senado ra Júnior. Os governista­s acreditam que só pode haver processo caso se estabeleça um novo rito ou por redação de nova legislação no Congresso ou por interpreta­ção do STF acerca da legislação vigente. “Entendo que ele ( Cunha) não pode processar qualquer pedido de impeachmen­t. Não há um rito integral de processame­nto de impeachmen­t hoje. A lei é de 1950. Houve alterações legislativ­as em normas subsidiári­as, como o Código de Processo Penal”, disse o deputado Wadih Damous (PT-RJ).

A avaliação diverge da feita por Cunha e pela oposição. Ambos entendem que a suspensão do “manual do impeachmen­t” permite que Cunha conduza o processo de afastament­o de Dilma baseado na conjunção de leis e regras da Câmara.

Demitida O secretário da Casa Civil da Prefeitura do Rio, Guilherme Schleder, exonerou anteontem a funcionári­a Danielle Porcari Alves, indicada por Eduardo Cunha e filha de Altair Alves Pinto, apontado na Lava Jato como receptor de propinas do peemedebis­ta

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