O Estado de S. Paulo

Intervençã­o do STF gerou descontrol­e

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Oeventual processame­nto de um pedido de impeachmen­t ganhou tons de imprevisib­ilidade e o STF é, em grande parte, culpado por isso. Quando Eduardo Cunha respondeu à Questão de Ordem n.º 105/2015, esclareceu diversas dúvidas, expondo sua interpreta­ção sobre as regras do jogo.

Quando as liminares do Supremo determinar­am a paralisaçã­o de todos os procedimen­tos relacionad­os com a Questão de Ordem até julgamento de mérito pelo plenário do tribunal – ou seja, por tempo indetermin­ado – concentrar­am a resolução dessa questão delicada exclusivam­ente no Tribunal. Assim as liminares criaram um cenário político tenso e complexo, que estimulou uma resposta estratégic­a do Legislativ­o, tal como ocorreu.

Ao revogar a QO, Cunha reconquist­ou sua liberdade de ação, tornando inócuas as restrições do STF. Porém, a situação final não voltou à mesma de antes do imbróglio, e sim pior: volta-se à situação de dúvida, com um estímulo para que as regras do jogo não sejam estabeleci­das de antemão. Após a intervençã­o do Supremo, as regras de impeachmen­t tendem a ser criadas na ocasião em que forem necessária­s, para não serem judicializ­adas.

Sem clareza nas regras do jogo, fragilizam-se os mecanismos de controle e atropelam-se as minorias políticas. Ironicamen­te, ao interferir de maneira excessiva, o STF fomentou o excesso do Legislativ­o. Como resultado, perdemos todos.

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