General que pediu ‘o despertar de uma luta patriótica’ é afastado
O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, transferiu Antonio Hamilton Martins Mourão para função burocrática
Ocomandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, decidiu transferir o general Antonio Hamilton Martins Mourão do comandoMilitar do Sul para a Secretaria de Economia e Finanças do Exército, em Brasília. O general Mourão, assim, perde o comando de uma tropa e passa a exercer um cargo mais burocrático.
A decisão de afastá-lo do comando foi tomada em virtude das declarações dadas a oficiais da reserva na qual fez duras críticas à classe política, ao governo e convocou os presentes para “o despertar de uma luta patriótica”. Em palestra, há pouco mais de um mês, o comandante militar do Sul fez também críticas indiretas à presidente Dilma Rousseff e ao comentar a possibilidade de impeachment de Dilma, disse que “a mera substituição da PR ( presidente da República) não trará mudança significativa no status quo” e que “a vantagem da mudança seria o descarte da incompetência, má gestão e corrupção”.
O general Mourão afirmou ainda que “a maioria dos políticos de hoje parecem privados de atributos intelectuais próprios e de ideologias, enquanto dominam a técnica de apresentar grandes ilusões”. A gota d’água para o afastamento do general Mourão veio no início da semana, quando o Comando Militar do Sul fez uma homenagem póstuma ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, morto no dia 15 deste mês, acusado de torturar presos durante o regime militar.
O Comandante da 3.ª Divisão de Exército, general José Carlos Cardoso, subordinado a Mourão chegou a expedir convites para a cerimônia realizada emSanta Maria (RS), cidade natal de Ustra. A presidente Dilma Rousseff foi presa e torturada nas dependências do Destacamento de Operações de Informações (DOI) do 2.º Exército em São Paulo, unidade chefiada pelo então major Ustra.
O requerimento do senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) ao ministro da Defesa questionando se o general Mourão estaria incitando os militares, aprovado ontem na Comissão de Relações Exteriores do Senado, fez com que o processo fosse ainda mais rapidamente deflagrado e o desfecho do caso, com o afastamento do general Mourão tivesse sido imediata.
Rapidez. A rapidez da solução do problema agradou o Planalto. O ministro da Defesa, Aldo Rebelo, já havia conversado com Dilma sobre as declarações do general, há pelo menos dez dias. Na ocasião, Aldo relatou as conversas que vinha mantendo com o comandante do Exército sobre o caso de Mourão e de outras declarações de militares que surgiram pelo País.
A ideia era transferir o general Mourão de cargo, mostrando que ele perdeu o posto, para dar uma demonstração de este
Crítica tipo de postura não é aceitável por parte de um general de Exército da ativa, falando para seus comandados. A proposta obteve a plena concordância da presidente.
Ontem, após reunião do Alto Comando do Exército, a transferência do general Mourão foi efetivada, e para o seu lugar foi designado o general Édson Leal Pujol, que já foi comandante das tropas no Haiti e atualmente estava na Secretaria de Economia e Finanças do Exército, para onde vai Mourão. Na reunião do Alto Comando, o assunto foi tratado e houve recomendação do general Villas Bôas para que este tipo de comportamento seja evitado por todos.