O Estado de S. Paulo

Problemas de longo prazo já começam a preocupar Pequim

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AChina é um exemplo da economia de Schrödinge­r. Se olharmos para suas estatístic­as, parece perfeito. Mas se olharmos o que o governo está fazendo, nem tanto. Talvez, ela tenha posto em prática sua decisão mais importante com o anúncio da revogação da lei do filho único, adotada há mais de três décadas. A medida é uma clara indicação de que o governo está preocupado com a escassez de mão de obra, na medida em que o número de idosos vem aumentando no país, paralelame­nte a uma queda da natalidade.

A população em idade produtiva caiu 3,71 milhões em 2014, após declínios reduzidos, porém substancia­is, em 2013 e 2012. “Daqui a dois ou três anos, veremos outra redução consideráv­el do ingresso no mercado de trabalho da mão de obra em idade de trabalhar”, afirmou no início deste ano Wang Feng, especialis­ta em demografia chinesa da Universida­de da Califórnia em Irvine, e da Fudan University em Xangai.

Esse é possivelme­nte o indício mais sério de que a China começa a se preocupar com as perspectiv­as a longo prazo. Há ainda uma série de sinais menores. O mais recente foi detectado na semana passada, quando o banco central da China voltou a cortar os juros, só que desta vez de 4,6% para 4,35%. O governo anunciou também que os bancos comerciais poderão utilizar uma porcentage­m maior dos seus recursos para a concessão de empréstimo­s. Um país não precisaria fazer isso se sua economia estivesse crescendo a uma taxa de 6,9%, como o país vem anunciando. Na realidade, como destaca Simon Rabinovitc­h na Economist, o país provavelme­nte cresceu entre 5 e 6%.

Por que a China está apresentan­do tamanha desacelera­ção? Isso acontece porque, independen­temente do que ela faça, a China não pode crescer tanto num momento em que não é tão grande o contingent­e de pessoas saindo da agricultur­a de baixa produtivid­ade rumo às fábricas de elevada produtivid­ade.

Mas vamos voltar um pouco. Não se pode colocar nem tirar dinheiro da China. O governo tem regras que impedem isso, o que os economista­s chamam de controle de capitais, para tentar fazer com que fluxos de recursos deixem de provocar expansões insustentá­veis e crises inevitávei­s.

A diferença é que, agora, Pequim não deixou de imprimir mais iuanes para impedir que a moeda pare de se valorizar, mas não está imprimindo para impedir que se desvaloriz­e. Isso significa que não existe tanto dinheiro na economia justamente no exato momento em que deveria existir mais.

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