Cristina apela por união para evitar derrota
Após revés em eleição, líder argentina usa Casa Rosada como palco de comício para pedir fim de divisão kirchnerista e militância porta a porta
A seis semanas de deixar o poder, a presidente Cristina Kirchner discursou atipicamente por três horas na Casa Rosada, em um comício improvisado no qual apresentou como concreta a possibilidade de uma vitória da oposição e pediu uma reação da militância. Ela pediu o fim da divisão kirchnerista em torno do candidato Daniel Scioli, que no dia 22 enfrenta o conservador Mauricio Macri. O ato teve tom de despedida.
“Posso ser algumas vezes bruta, arrogante, mas falo agora com total falta de interesse pessoal. Não sou candidata a nada, em 10 de dezembro vou para ca- sa. Mas, quando for para casa, não quero que desmorone tudo o que levamos anos para construir”, afirmou, quase chorando, em um dos quatro discursos feitos em diferentes salões da Casa Rosada.
Cristina partiu para o confronto direto com Macri. Argumentou que o país não escolherá entre partidos, mas entre dois modelos. “Gostaria que o debate agora não fosse sobre palavras, mas considerasse a posição que cada um teve no passado recente”.
Ela citou votos da oposição contra o casamento gay, a nacionalização da Aerolíneas Argentinas e da petrolífera YPF. Também lembrou que Macri defendeu o pagamento integral aos chamados fundos abutres, credores que não aceitam a renegociação da dívida argentina e querem o valor total de seus títulos. “Devemos à cidadania não só palavras. Que ninguém se disfarce do que não é. Nós, com nosso erros, somos o que somos.”
Cristina atacou a candidata a vice na chama adversária, Gabriela Michetti, que se disse em entrevista arrependida de ter votado contra o casamento gay, aprovado em 2010. “Não basta dizer me arrependo. Você se arrepende, mas f... a vida de 40 milhões de argentinos. Desculpem o termo pouco acadêmico, mas para defender os argentinos sou capaz de qualquer coisa”, disse Cristina.
No domingo, Scioli obteve 36,8% dos votos e Macri alcançou 34,3%. Para vencer no pri- meiro turno, como esperava, precisaria ter atingido 40% dos votos e aberto 10 pontos de diferença sobre o segundo.
Uma vantagem do opositor é contar com o apoio tácito do terceiro colocado, o ex-kirchneris-