Ministério vai estudar ‘pílula do câncer’
Se houver aval do grupo que desenvolveu a fosfoetanolamina, ideia é analisar ação e toxicidade; ministro alerta que o uso agora é ‘temerário’
O Ministério da Saúde vai criar um grupo de trabalho para estudar a fosfoetanolamina, substância com suposta ação contra o câncer que vinha sendo produzida no Instituto de Química da USP de São Carlos. “Temos de colocar fim nesta celeuma. Precisamos dar uma resposta para a sociedade”, afirmou o ministro Marcelo Castro.
Uma portaria sobre o assunto deve ser publicada hoje no Diário Oficial. O texto, ao qual o Estado teve acesso, estabelece prazo de 60 dias para que a comissão apresente uma linha básica de atuação. Para que as pesquisas sejam feitas, no entanto, é preciso o aval do grupo que desenvolveu a substância na USP. A universidade não comenta o assunto.
O formato proposto pelo governo prevê a análise da molécula, a realização de estudos para avaliar o mecanismo de ação e toxicidade da substância até um a eventual realização de pesquisa clínica. “Nunca foi feito nada disso. E se criou uma tensão nacional. A grande preocu- pação é que pessoas deixem de fazer o tratamento adequado para usar um produto que não tem eficácia comprovada”, disse o ministro.
Incor e Fiocruz. A ideia é que Instituto do Câncer e a Fiocruz participem dos trabalhos. Castro afirmou que o ministério vai arcar com os custos do financiamento. “Não serão necessários muitos recursos”, disse. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) vai acompanhar os trabalhos. “Todas as etapas serão respeitadas, incluindo, por exemplo, o aval das comissões de ética”, disse Costa. O ministro ainda fez apelo para que pessoas não usem a substância. “É temerário. Não sabemos os efeitos que pode causar. Não quero entrar no mérito porque testes não foram feitos até agora. O importante é esclarecer.”
Castro observou que, ao longo dos últimos meses, criou-se no imaginário da população a falsa ideia de que a substância somente não é comercializada por pressões de grandes grupos econômicos. “Não é isso”, disse. Ele observa que o produto não passou por estudos que de- monstrem eficácia e segurança. Não há prazo para que estudos sejam concluídos. “Vamos fazer de forma ágil. Se ela for boa, aí sim, médicos poderão prescrevê-la, liminares poderão ser concedidas. E se ela não tiver efeitos esperados, se não for segura, que se descarte e não fique essa celeuma.”
Garrafada.
Desenvolvida por um grupo de pesquisadores liderados pelo químico Gilberto Chierice, a substância foi durante anos fornecida gratuitamente para pessoas interessadas. Em setembro, o Tribunal de Justiça de São Paulo vetou a distribuição. Dias depois, o Supremo Tribunal Federal decidiu em favor de um pedido para um paciente. O descompasso levou a uma onda de liminares.