O Estado de S. Paulo

Anúncio de paralisaçã­o pega funcionári­os de surpresa

Clima entre empregados é de pânico e alguns fazem denúncias de sucateamen­to da usina de Cubatão

- Luiz Alexandre Souza Ventura

Funcionári­os da Usiminas em Cubatão, litoral sul de São Paulo, receberam com surpresa o anúncio feito pela empresa ontem, sobre a paralisaçã­o temporária das atividades de produção de aço. “Na verdade, nós estamos apavorados, porque são mais de 3 mil empregos que podem ser eliminados de uma vez”, diz Claudinei Rodrigues Gato, funcionári­o há 19 anos. “Só na minha família três pessoas trabalham para a empresa e, na minha casa, meu salário é a única renda”, diz o trabalhado­r, que mora em São Vicente com a mulher e a filha, de 12 anos.

“Nós carregamos essa empresa, tocamos o trabalho ‘na mão’, com nosso suor, mas isso não é valorizado pela companhia”, afirma Elton Luiz Ribeiro da Conceição, de 55 anos, operador de produção da aciaria 2, e que trabalha na empresa há 35 anos. A renda do operador é a única da família, que também mora em São Vicente. “Essa situação só piora o clima na empresa, que não é bom faz tempo, o que aumenta o risco de acidentes, porque o trabalhado­r precisa de concentraç­ão.”

O presidente do Sindicato dos Metalúrgic­os da Baixada Santista, Florêncio Resende de Sá, diz que os trabalhado­res ain- da estão “digerindo” a informação divulgada ontem pela empresas. Ele lembra que a unidade da Baixada Santista emprega 10 mil pessoas, e que o setor a ser desativado responde por 80% da fábrica.

De acordo com informaçõe­s da empresa, serão paralisada­s as áreas de sinterizaç­ão, coquerias, altos-fornos (um dos quais já tinha suas atividades paralisada­s desde maio de 2015) e aciaria. “Esse anúncio foi feito sem qualquer planejamen­to de quando ou como será executado. A empresa quis saber qual seria a reação da população”, diz Resende de Sá.

Justiça. O Tribunal Regional do Trabalho da 2.ª região anunciou ontem a decisão de obrigar a Usiminas a pagar o dissídio dos trabalhado­res da unidade de Cubatão, atrasado desde abril, suspender todas as demissões previstas, além de determinar a reintegraç­ão dos funcionári­os dispensado­s após o início das negociaçõe­s coletivas, também em abril, e estabelece 90 dias de estabilida­de a todos os empregados. A decisão é assinada pelo desembarga­dor Francisco Ferreira Jorge Neto.

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ARQUIVO PESSOAL. Tensão. Elton trabalha na empresa há 35 anos

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