O Estado de S. Paulo

O crédito em ritmo de recessão econômica

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E n d i v i d a ment o crescente das pessoas físicas, renegociaç­ões de dívidas acentuadas e aumento da inadimplên­cia marcaram mais uma nova desacelera­ção do crédito: em setembro, o saldo total das operações (R$ 3,16 trilhões) cresceu apenas 0,8% em relação a agosto e 9,1% em 12 meses, comparados aos 12 meses anteriores. A evolução do crédito foi negativa em termos reais, por causa da inflação de 9,49% no mesmo período. Já as concessões de crédito evoluíram 4% no mês, mas caíram 0,9% em 12 meses.

Juros elevados e critérios rígidos de seletivida­de já bastariam para afastar os clientes das operações. Mas estes tampouco estão dispostos a tomar crédito. As empresas adiam planos de investimen­to e as famílias que se endividara­m para comprar a casa própria hoje cuidam de reequilibr­ar o orçamento.

O crédito, aos poucos, destina-se mais para situações de emergência. As concessões de crédito para empresas aumentaram 10,9% entre agosto e setembro, o que provavelme­nte se explica pela premência por capital de giro em decorrênci­a da falta de vendas. Em alguns casos, trata-se de manter estoques para a eventualid­ade de melhora das ven- das natalinas.

No crédito direcionad­o, em que as taxas de juros são mais baixas, as operações declinam por causa da falta de recursos nas cadernetas de poupança e do freio do BNDES. As concessões a pessoas físicas de financiame­nto imobiliári­o com taxas reguladas caíram 4,6% no mês e 9,3% em 12 meses. Neste caso, é melhor o comportame­nto do crédito a taxas de mercado, bem mais altas.

No mercado de crédito total, os juros médios são de 20,4% ao ano para pessoas jurídicas e de 37,4% ao ano para físicas. Mas no segmento de taxas livres esses juros são, respectiva­mente, de 29,3% e de 62,3% ao ano. A enorme diferença que favorece os tomadores de crédito direcionad­o é uma distorção. As taxas médias aplicadas às pessoas físicas sofrem alguma influência das operações de cheque especial e rotativo do cartão de crédito, com custos anuais de 263,7% e de 414,3%.

O volume de renegociaç­ões de dívida de pessoas físicas cresceu 1,7% no mês e 14,1% em 12 meses, atingindo R$ 24,8 bilhões. No ano a alta foi de 13,4%, quase R$ 3 bilhões. E o endividame­nto das famílias (relação entre o saldo das dívidas e a renda em 12 meses) chegou a 46%, leve acréscimo em relação a agosto.

O aperto creditício agrava a recessão. E, pior, não há sinais de mudança nesse quadro.

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