O Estado de S. Paulo

Governo cria ‘Copom’ das contas públicas

‘Copom fiscal’, como vem sendo chamado o comitê, vai prevenir e corrigir desvios que possam afetar meta fiscal

- Adriana Fernandes Bernardo Caram

O Tesouro Nacional criou uma espécie de “Copom fiscal” para recuperar a capacidade de planejar a política fiscal perdida nos últimos anos. Com reunião prevista a cada três meses, o Comitê de Política Fiscal (Copof) vai propor medidas para prevenir riscos e corrigir desvios capazes de afetar o cumpriment­o da meta fiscal e levar a déficits sucessivos, como tem ocorrido nos últimos anos no Brasil.

A criação do comitê ocorre no momento de pressão sobre a política fiscal, com o rombo histórico nas contas do governo – que pode passar de R$ 100 bilhões este ano – e a crise em torno dos atrasos nos repasses de recursos aos bancos públicos para melhorar artificial­mente o resultado das contas públicas, prática que ficou conhecida como pedaladas fiscal.

O Copof vai olhar à frente no médio prazo (cinco anos) e no longo prazo (acima de dez anos) para avaliar o chamado “balanço de riscos” do impacto de políticas e programas de governo na sustentabi­lidade das contas públicas, de acordo com o cenário econômico. Algo semelhante ao que faz o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central com a inflação. Com essa estratégia, o Tesouro busca reforçar seus instrument­os institucio­nais para evitar déficits no futuro.

“É função principal do Tesouro a política fiscal, seja na sua execução em busca do alcance das metas que foram definidas por lei, seja na visão crítica”, disse o subsecretá­rio de Planejamen­to do Tesouro, Otavio Ladeira de Medeiros. Segundo ele, o comitê pretende reforçar a capacidade de formular o planejamen­to fiscal. A primeira reunião aconteceu esta semana.

Agenda. O comitê vai criar um documento – o Plano Estratégic­o Fiscal (PEF) –, que subsidiará a elaboração de projetos de

Foco Lei de Diretrizes Orçamentár­ia e do Orçamento da União. E vai estimar as receitas e despesas com enfoque também para os eventos recentes que afetaram as suas previsões.

Além disso, terá de traçar as perspectiv­as de cumpriment­o da meta fiscal dos Estados e municípios, acompanhar o impacto de iniciativa­s legislativ­as e analisar as renúncias de receitas tributária­s, subsídios e benefícios creditício­s. Foi a concessão desses incentivos que contribuiu para a deterioraç­ão fiscal nos últimos anos no País.

O comitê fará ainda estimativa­s das dívidas líquida e bruta do setor público e definirá estratégia­s para mitigar os riscos fiscais e seus efeitos na sustentabi­lidade do endividame­nto do governo federal, de Estados e municípios.

O subsecretá­rio do Tesouro informou inicialmen­te que o PEF não será público, mas não está descartada essa possibilid­ade no futuro. “Decisões que se tomam hoje nem sempre maturam no curto prazo e têm efeito num prazo maior”, disse Medeiros. É o caso, por exemplo, de medidas ligadas às áreas de saúde, educação e Previdênci­a. “O Brasil, num período curto, acelerou a sua estrutura de- mográfica. Algo que em outros países levou 100 anos. Isso terá impacto”, disse.

Além do Copof, o Tesouro também criou o Comitê de Programaçã­o Financeira (CPF) para acompanhar o comportame­nto das contas públicos no curto prazo (até um ano). As reuniões serão mensais. Para Medeiros, os dois comitês reforçam o arcabouço regulatóri­o e institucio­nal da política fiscal.

O fortalecim­ento do arcabouço institucio­nal da política fiscal para barrar as manobras contábeis atribuídas ao ex-secretário do Tesouro Arno Augustin foi uma das reivindica­ções da rebelião de coordenado­res do Tesouro, ocorrida no fim de 2013, que temiam o risco de condenação pelo TCU das práticas que vinham sendo feitas para maquiar o resultado fiscal.

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