O Estado de S. Paulo

Incoerênci­as nas explicaçõe­s para manter os juros

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Nem sempre a coerência está presente nas atas das reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom). Mas poucas terão sido tão incoerente­s quanto a do encontro de outubro – realizado na semana passada –, divulgada ontem. Em resumo, os “balanços dos riscos” para a inflação pioraram, mas os diretores do Banco Central decidiram manter a taxa básica de juros no mesmo nível em que ela se encontra desde julho e a grande maioria dos analistas entendeu que assim permanecer­á “por um período prolongado”.

Essa, diga-se logo, não é mais uma jabuticaba. Bancos Centrais ao redor do mundo são especialis­tas em apontar para um lado e atirar para o outro em sua comunicaçã­o com o público. Na quartafeir­a, por exemplo, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), o Copom do Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos) também publicou a ata de sua última reunião e sinalizou, mesmo com dados da inflação e do emprego apontando na direção da manutenção da taxa de referência próxima de zero por mais tempo, o início da retomada da alta de juros para dezembro.

No caso brasileiro, a ata mostrou clara preocupaçã­o com as hesitações e dificuldad­es do governo em promover cortes de despesas e aumentos de receitas, em quadro de grave crise política e boicote do Congresso às iniciativa­s de ajuste. Não poderia haver menção mais explícita em relação ao tópico do que a contida no parágrafo 24 da ata, na qual o Copom considera que “indefiniçõ­es e alterações” nas projeções de superávits primários trazem incertezas para as estimativa­s de inflação e “contribuem para criar percepção negativa sobre o ambiente macroeconô­mico”.

Nem por isso o Copom indicou a possibilid­ade de uma alta dos juros em prazo mais curto. No máximo, cumpriu tabela e tentou driblar a hipótese de que tenha aderido ao diagnóstic­o da existência de um estado de dominância fiscal na economia ao registrar que se “mantém vigilante”. Traduzida do “coponês”, a expressão expressa crença no regime de metas e na convergênc­ia da inflação para seu centro, ainda que não mais em fins de 2016, mas no horizonte relevante – ou seja meados de 2017.

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