O Estado de S. Paulo

Mais 2 milhões procuram trabalho

Para elevar a renda familiar, jovens e mulheres voltam ao mercado, mas não encontram vagas e fazem taxa de desemprego subir a 8,7%

- Idiana Tomazelli Tiago Cabral Barreira

A recessão tem levado um número cada vez maior de pessoas a buscar uma vaga na tentativa de recompor a renda da família. Na ausência de oportunida­des, 2 milhões de brasileiro­s engrossara­m a fila do desemprego no trimestre até agosto em relação a igual período de 2014, Assim, a taxa de desocupaçã­o atingiu 8,7%, a maior da série da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, iniciada em 2012.

A alta no número de desemprega­dos também foi recorde, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE). São jovens que antecipam a procura por uma vaga e adultos mais velhos, principalm­ente mulheres, que deixam a inatividad­e na tentativa de ajudar no orçamento doméstico. “A busca por estabilida­de faz com que mais pessoas sigam para o mercado de trabalho, que não está contratand­o”, observou Cimar Azeredo, coordenado­r de Trabalho e Rendimento do órgão.

No trimestre até agosto, 1,089 milhão de pessoas perderam emprego com carteira assinada em relação a igual período do ano passado. “Quando isso acontece, ela perde a cobertura social, a possibilid­ade de planejar decisões de consumo. Há ainda impacto na arrecadaçã­o, pois para de recolher à Previdênci­a”, diz a economista Maria Andréia Lameiras, pesquisado­ra do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Como resultado, a piora não aparece apenas em indicadore­s como a taxa de desemprego ou o número de pessoas que bus- cam colocação. Tanto Azeredo quanto outros especialis­tas afirmaram que a mudança mais preocupant­e é na qualidade. “No momento em que alguém perde o emprego formal, não é só ele que sai atrás de uma vaga, e é aquela história: o que conseguir, conseguiu”, disse Maria Andréia. O “jeitinho” encontrado pelos brasileiro­s, segundo a economista do Ipea, foi recorrer ao emprego informal.

Em um ano, 926 mil pessoas se inseriram no mercado por conta própria, uma posição marcada, sobretudo, pela ausência de registro e de benefícios sociais. Estão nessa categoria os vendedores ambulantes. O rendimento médio também é menor. “Em geral, todos os grupamento­s estão perdendo formalizaç­ão, principalm­ente o comércio, que é canal de entrada para aquele que perde o emprego e acaba montando o próprio negócio”, disse Azeredo, do IBGE.

Sem sinais positivos para a atividade econômica, especialis­tas esperam que o mercado de trabalho siga piorando nos próximos meses. Para José Marcio Camargo, economista-chefe da Opus Gestão de Recursos, a taxa de desemprego vai a 12% em meados de 2016. “Certamente a taxa vai continuar aumentando em 2016”, disse.

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RAFAEL ARBEX / ESTADAO Caminho. Cíntia teve de voltar para o trabalho doméstico

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