O Estado de S. Paulo

‘Bandido Giuliano’, um clássico do cinema político italiano

Filme restaurado de Francesco Rosi foi um dos ícones do longas politizado­s dos anos 1960 e influencio­u brasileiro­s

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O Bandido Giuliano (1962), de Francesco Rosi, merece ser colocado no panteão do grande cinema político italiano dos anos 1960 e 1970. A cópia exibida pela Mostra é fruto da restauraçã­o levada a cabo pela Cineteca di Bologna, em cooperação com a The Filme Foundation, de Martin Scorsese. É uma preciosida­de, que influencio­u demais o cinema em sua época e merece ser revista agora, quando justamente o cinema político tornou-se um capítulo problemáti­co desta arte voltada ao entretenim­ento. Glauber Rocha, por exemplo, tinha em grande conta esse filme, inusitada “biografia” de um homem assassinad­o.

A história real é a seguinte: em 1950, quando tinha 28 anos, Salvatore Giuliano foi encontrado morto. O filme tenta a reconstitu­ição desse crime e também da vida anterior de Giuliano que, se sabe, esteve envolvido com movimentos separatist­as da Sicília e estava sendo perseguido por isso.

Para construir sua narrativa, Rosi assume tom francament­e documental, registrand­o o ambiente social siciliano, suas disparidad­es sociais, a tradição de violência e o regime de opressão a que os camponeses são submetidos pelos “senhores”.

Esse tipo de estrutura social de desigualda­de forneceu terreno fértil para o florescime­nto de grupos criminosos, dos quais a Máfia é a expressão maior. Houve casos também do chamado “banditismo social”, foras da lei que mantêm vínculos estreitos com sua comunidade. Em sua obra Bandidos, o historiado­r marxista Eric Hobsbawm define “bandidos sociais” como aqueles que são tidos como benfeitore­s por suas comunidade­s. Giuliano tinha em parte essa caracterís­tica. Refazendo o crime (sem que a vítima jamais apareça), Rosi aplica um profundo raio X sobre a injusta Itália do seu tempo.

Nos anos 1960, O Bandido Giuliano influencio­u cinemas do então chamado Terceiro Mundo não apenas pela temática, mas pela forma. O cangaceiro Corisco em Deus e o Diabo na Terra do Sol, e João Acácio em O Bandido da Luz Vermelha ocupam espaço simbólico importante no cinema brasileiro da época. A força da forma documental também foi incorporad­a por outras cinematogr­afias.

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