O Estado de S. Paulo

CPI convoca amigo de Lula para depor

Após manobra da oposição na comissão que investiga o BNDES, pecuarista José Carlos Bumlai será ouvido sobre empréstimo­s do banco

- Adriano Ceolin Daiene Cardoso / EMPRESÁRIO SOB SUSPEITA

A Comissão Parlamenta­r de Inquérito que apura irregulari­dades no Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES) aprovou ontem a convocação do empresário e pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e investigad­o no esquema de corrupção na Petrobrás. Pegos de surpresa, os governista­s agora vão tentar retardar ao máximo o depoimento. O objetivo é trabalhar contra a prorrogaçã­o da CPI, cujo término está marcado para o mês que vem.

Ontem mesmo, o PT apresentou um recurso alegando que o requerimen­to de convocação de Bumlai foi incluído na pauta de última hora, sem atender a normas regimentai­s. O presidente da CPI, Marcos Rotta (PMDB-AM), prometeu decidir sobre o assunto na semana que vem. Se ele rejeitar o pedido, o PT estuda apresentar um novo recurso à Mesa Diretora da Câmara. Assim, o caso poderá acabar nas mãos do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Por 16 votos a três, a oposição conseguiu derrubar a blindagem montada pelo PT há semanas. A pedido do ex-presidente Lula, o partido tenta evi- tar a exposição do empresário com quem o petista mantém uma relação próxima desde 2002. Bumlai é dono de uma usina de álcool que fez empréstimo­s com o BNDES e que acumula atualmente uma dívida de cerca de R$ 1,2 bilhão e se encontra à beira da falência.

O empresário nega qualquer ilicitude e diz também não ter qualquer relação com o esquema investigad­o na Lava Jato.

Manobra. A convocação deu certo graças a uma estratégia da oposição. Deputados do PSDB e do PPS encontrara­m um artigo no Regimento Interno da Câmara que permite retomar discussões de votações já iniciadas na sessão anterior. Na semana passada, a convocação de Bumlai chegou a entrar na pauta e teve a discussão iniciada. Contudo, a votação não ocorreu porque o governo impediu e também porque a sessão do plenário começara.

Ontem, logo na abertura dos trabalhos da CPI, o deputado Arnaldo Jordy (PPS-SP) apresentou uma questão de or-

Empréstimo do BNDES Uma usina de José Carlos Bumlai em Dourados (MS) teria recebido do BNDES empréstimo de R$ 101,5 milhões em 2012 após ter pedido falência à Justiça um ano antes. Norma do banco o proíbe de conceder empréstimo­s a empresas em tais condições.

Nora de Lula O delator Fernando Baiano (foto) afirmou que teve ajuda de Bumlai para que a empresa OSX participas­se de contratos da Sete Brasil com a Petrobrás. Segundo Baiano, Bumlai cobrou comissão de R$ 3 milhões e disse que o valor seria destinado para uma nora de Lula. Bumlai nega.

dem pedindo a retomada da votação sobre o requerimen­to de Bumlai. A ação pegou de surpresa a base governista, que não tinha número suficiente de parlamenta­res para impedir a convocação de Bumlai. Na sequência, governista­s deixaram a sala da reunião da CPI para derrubar o quórum.

“Tudo foi pensado na véspe-

Navio-sonda A Lava Jato aponta que Bumlai e o Fernando Baiano acertaram o pagamento de US$ 5 milhões em propina para o ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró e outros dois ex-gerentes da estatal, pagos pelo Grupo Schahin, pelo contrato de um navio-sonda.

Dívida de campanha A Operação Lava Jato apura se existe relação entre uma dívida de R$ 60 milhões da campanha de 2006 de Lula com o Grupo Schahin e o empréstimo de R$ 12 milhões feito pelo banco do grupo a Bumlai. Contrato de US$ 1,6 bi da Petrobrás teria sido dirigido à Schahin, com intermedia­ção de Bumlai.

ra. Mapeamos quem tinha mágoa ou desentendi­mento com o governo”, disse o deputado Alexandre Baldy (PSDB-GO).

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GABRIELA BILO/ESTADÃO–22/10/2015 Empresário. José Carlos Bumlai nega ter relação com esquema investigad­o na Lava Jato
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