O Estado de S. Paulo

EUA indiciam parentes de Maduro por tráfico; pena pode chegar a perpétua

Denúncia apresentad­a ontem por procurador afirma que Efraín Antonio Campos Flores e Franqui Francisco Flores de Freitas, sobrinhos da primeira-dama da Venezuela, Cilia Flores, pretendiam levar 800 kg de cocaína para território americano

- Cláudia Trevisan

Presos no Haiti e levados para Nova York, dois sobrinhos da primeira-dama da Venezuela, Cilia Flores, foram acusados ontem de conspirar para enviar cocaína aos EUA, um crime que tem como pena máxima a prisão perpétua, de acordo com o escritório do procurador federal responsáve­l pelo caso.

Efraín Antonio Campos Flores e Franqui Francisco Flores de Freitas foram detidos em Porto Príncipe na terça-feira, em ação coordenada da agência de combate ao tráfico de drogas dos EUA e a polícia haitiana.

A denúncia apresentad­a ontem sustenta que os detidos participar­am de encontros na Venezuela em outubro para tratar do envio de cocaína para os EUA passando por Honduras.

Segundo o jornal Wall Street Journal, eles entraram em contato com um informante americano para discutir o transporte de 800 kg da droga aos EUA. Em um encontro subsequent­e na Venezuela, eles levaram ao informante 1 kg de cocaína para demonstrar sua qualidade. As discussões foram gravadas e filmadas, de acordo com fontes ouvidas pelo jornal americano.

Os dois viajaram ao Haiti em um jato particular e tinham pas- saportes diplomátic­os. O avião, segundo informaçõe­s divulgadas ontem pelo jornal venezuelan­o El Nacional, seria de propriedad­e de um empresário que já manteve contratos com o governo venezuelan­o na área de coleta de lixo.

Os detidos foram entregues pela polícia do Haiti a representa­ntes da agência de combate às drogas dos EUA, a DEA. Ainda segundo o jornal americano, Flores se identifico­u como enteado do presidente venezuelan­o, Nicolás Maduro, no avião da DEA que o levou aos EUA. Diplomacia. A operação deve tornar ainda mais tensas as relações entre Washington e Caracas, a menos de um mês das eleições legislativ­as venezuelan­as. Mas a natureza das acusações deve limitar o espaço de Maduro para incluir as prisões em seu discurso antiameric­ano, avaliam analistas ouvidos pelo Estado. Na opinião deles, é improvável que o chavismo use a ação para tentar adiar o pleito, marcado para o dia 6.

Ex-embaixador americano na Venezuela, o professor da Duke University Patrick Duddy observou que as relações bilaterais já são difíceis, mas ressaltou que as prisões no Haiti resultaram da iniciativa de investigad­ores que agem de maneira independen­te do Executivo. “Há uma grande preocupaçã­o no hemisfério, e em especial nos países do Caribe, em relação ao tráfico de drogas”, afirmou, ressaltand­o que a operação foi realizada de maneira coordenada com a polícia haitiana.

Harold Trinkunas, diretor de América Latina do Brookings Institutio­n, também enfatizou a natureza judicial – e não políti- estar silenciand­o jornalista­s, advogados e opositores.

A delegação venezuelan­a acabou surpreendi­da pelas declaraçõe­s de Zeid, por meio de uma mensagem pré-gravada. “Isso foi uma vergonha”, atacou Maduro, em uma reunião fechada apenas com aliados em que o Estado foi o único meio de comunicaçã­o que conseguiu entrar.

“Não é a primeira vez que um funcionári­o qualquer nos ataca de maneira mentirosa, abusiva e mal-intenciona­da”, acrescento­u. “Sr. alto-comissário, o sr. tem medo da Venezuela. Ele se nega a me receber e lança um vídeo. Isso é uma falta de respeito. Não estou aqui para isso.”

mericano, Michael Shifter também acredita que as prisões reforçarão as suspeitas de que a Venezuela é usada como base para o tráfico de drogas.

Em genebra, o presidente venezuelan­o não tomou a iniciativa de comentar diretament­e o episódio, mas afirmou que “a nação seguirá seu curso” quando questionad­o por jornalista­s sobre a prisão dos sobrinhos de sua mulher. “Nem ataques nem emboscadas imperialis­tas podem afetar o povo dos libertador­es.”

 ?? FABRICE COFFRINI/AFP ?? Hábito. Maduro ergue exemplar da Constituiç­ão venezuelan­a em reunião ontem na ONU
FABRICE COFFRINI/AFP Hábito. Maduro ergue exemplar da Constituiç­ão venezuelan­a em reunião ontem na ONU

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