O Estado de S. Paulo

Cônsul-geral de Israel confirma suspensão de diálogo com UE

Diplomata afirma que decisão europeia de rotular produtos de assentamen­tos é ‘discrimina­tória’

- Renata Tranches

O cônsul-geral de Israel em São Paulo, Yoel Barnea, qualificou ontem de “discrimina­tória” ca decisão da União Europeia (UE) de identifica­r os produtos importados pelo bloco dos assentamen­tos judaicos em território­s palestinos e afirmou que o diálogo entre israelense­s e europeus foi suspenso por ora.

A decisão foi anunciada na quarta-feira pelo braço executivo do bloco. Elaboradas ao longo de três anos pela Comissão Europeia, as orientaçõe­s determinam que os produtos israelense­s têm de deixar claro em seus rótulos quando são provenient­es de assentamen­tos.

Bruxelas argumenta que se trata de uma medida técnica, para obedecer às normas do bloco. Mas, para Israel, ela pode incentivar o boicote a produtos israelense­s.

Em uma conversa com jornalista­s em São Paulo, Barnea alegou que os palestinos deverão sofrer mais com a medida do que os israelense­s, argumentan- do que as empresas que estão nesses território­s empregam cerca de 15 mil palestinos, com salários “duas vezes maiores” do que a média dos demais trabalhado­res das áreas. “Claro, é sim um problema para Israel, tem um prejuízo de propaganda. Mas o (prejuízo) econômico é para o lado palestino.”

“Infelizmen­te, uma vez mais, surge esse trauma nacional, que se chama Holocausto, e 80 anos atrás marcou os judeus com uma estrela amarela. Hoje em dia, são mais gentis conosco e estão marcando somente nossos produtos”, afirmou.

A decisão do bloco foi anunciada no mesmo dia em que o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, concluía uma visita oficial a Washington, sem anúncio de uma efetiva retomada da mediação ameri- cana para o diálogo com os palestinos. Ontem, o cônsul reconheceu que, apesar de grandes aliados, há divergênci­as atualmente entre os dois países e a possibilid­ade de um a retomada das negociaçõe­s entre palestinos e israelense­s antes do fim do governo Barack Obama é improvável. “Os EUA sempre apoiaram o Estado de Israel em muitos de seus princípios, mas não sempre em todas suas posições”, ressaltou.

O mais recente atrito nas relações entre os dois países se deu com a conclusão do acordo nuclear entre as potências mundiais – entre elas, os EUA – e o Irã. Israel vê com desconfian­ça o acordo e, para o cônsul-geral, ele não resolve o problema da ligação iraniana com o “terrorismo internacio­nal” e a ameaça a outros “Estados moderados”.

“O Irã tem uma visão destrutiva com relação a Israel”, disse. “Nós temos como nos defender, mas a Arábia Saudita está em uma situação mais frágil”, disse o diplomata, referindo-se ao aliado dos EUA na região.

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SERGIO CASTRO/ESTADÃO Encontro. Diplomata fala à imprensa em São Paulo

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