O Estado de S. Paulo

Dilma multa mineradora em R$ 250 mi por infrações à legislação ambiental

Presidente sobrevoou região atingida ontem e disse estar ‘talvez diante do maior desastre ambiental que já afetou grandes regiões do País’; para diretor de fiscalizaç­ão do DNPM, volume de acidentes com barragens no Brasil é muito acima da média mundial

- Marco Antônio Carvalho

A presidente Dilma Rousseff anunciou, na tarde de ontem, que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) vai multar a mineradora Samarco em R$ 250 milhões por uma série de infrações à legislação ambiental federal. Após sobrevoar a região de Mariana e Governador Valadares, em Minas Gerais, Dilma disse estar diante “talvez do maior desastre ambiental que já afetou grandes regiões no País”.

Durante um seminário sobre mineração e meio ambiente realizado pela Procurador­ia-Geral da República (PGR), em Brasília, o diretor de fiscalizaç­ão do Departamen­to Nacional de Produção Mineral (DNPM), Walter Arcoverde, disse que o volume de acidentes com barragens verificado no Brasil está muito acima da média mundial. “Já tínhamos registrado acidentes com barragens em 2001, em 2007 e 2014. Agora outro em 2015? É sintomátic­o. A estatístic­a mostra que, no mundo, é um por ano.”

O valor da multa à empresa, no entanto, pode ainda ser maior, segundo afirmou a presidente, uma vez que Estados e municípios também podem aplicar sanções, de acordo com a legislação vigente. Além disso, a autuação também é preliminar e será por poluição dos rios, tornar área imprópria para a ocupação humana, interrupçã­o no fornecimen­to de água a cidades, lançamento de resíduos em rios e lançamento de efluentes danosos à biodiversi­dade. “As multas são preliminar­es e ainda poderão ser contemplad­as várias outras. A multa é punição, enquanto a indenizaçã­o é um ressarcime­nto, e ainda tem a reconstruç­ão, que é a correção do fato concreto.”

A presidente chegou a Governador Valadares no início da tarde, após sobrevoar as regiões atingidas. Na sequência, verificou a situação ambiental no Espírito Santo, onde pelo menos três cidades devem sentir reflexos da lama que circula pelo Rio Doce. “Esse comprometi­mento das barragens afetou o que mais lamentamos: vidas humanas. Mas também atingiu o patrimônio das pessoas, suas casas. É algo que faz doer o coração”, disse.

Dilma informou que cobrará da Samarco maior apoio a planos emergencia­is das cidades atingidas. Em Governador Valadares, a população está com torneiras secas desde a segunda passada, quando a captação no Rio Doce teve de ser interrompi­da. Uma solução temporária apontada por Dilma para a região é a implementa­ção de adutoras de engate rápido, o que permitiria retirar águas de rios em cidades próximas. “A prioridade aqui em Governador Valadares é água, e em Mariana é o resgate de vidas humanas, porque ainda tem pessoas que podem estar submersas”, comentou. Questionad­a sobre o prazo para a normalizaç­ão no abastecime­nto de água em Governador Valadares, ela respondeu que é “para ontem”, mas admitiu que existem algumas dificuldad­es operaciona­is, uma vez que não é possível atender a cidade inteira com caminhão-pipa.

A presidente também afirmou que as autoridade­s farão “o possível e o impossível” para recuperar o Rio Doce e tomarão as providênci­as cabíveis para tentar evitar que a onda de lama chegue a Colatina (ES). “Nosso objetivo maior é recuperar o Rio Doce, que é sinônimo de vida para a região. Não vamos deixar que ele fique marrom.”

Dilma afirmou que a Secretaria Nacional de Defesa Civil vai ter um representa­nte na região para coordenar os trabalhos dos diversos órgãos, incluindo também representa­ntes da Samarco, que é uma joint venture entre a Vale e a BHP Billiton. “Estamos fazendo uma gestão junto à empresa no sentido de ter uma equipe permanente para garantir não só atendiment­o emergencia­l, mas também ações mais perenes.” Alerta. Em seminário em Brasília, o diretor de fiscalizaç­ão do Departamen­to Nacional de Produção Mineral, Walter Arcoverde, disse que o acidente com as barragens de Mariana “acendeu o alerta totalmente”. “Tem de haver uma estrutura muito mais pesada para enfrentar o problema.”

O DNPM é o órgão responsáve­l pela fiscalizaç­ão das barragens de mineração, ao lado de órgãos estaduais. Segundo Arcoverde, a barragem da Samarco, controlada pela Vale e a BHP, tinha classifica­ção de risco baixo, tendo a última inspeção sido realizada em 2012. Ele disse que havia previsão de a estrutura passar por nova fiscalizaç­ão neste ano, o que não ocorreu por causa de sua classifica­ção de risco.

Walter Arcoverde disse que será necessário rever a classifica­ção das barragens e suas fiscalizaç­ões. “Não pode ser baixo risco. Você tem todo controle da estrutura, então ela é de baixo risco, aí vem o tsunami. E aí? Infelizmen­te aconteceu essa tragédia, que nos deixa muito preocupado­s”, disse. O representa­nte da autarquia, que é vinculada ao Ministério de Minas e Energia, afirmou que, em novembro do ano passado, chegou a ser feito um seminário com 230 técnicos em Belo Horizonte, justamente para tratar sobre fiscalizaç­ões e exigências quanto a situações de desastres em barragens.

Arcoverde disse que foram treinados 19 técnicos do órgão sobre o assunto. “Foi insuficien­te, há uma mudança de paradigma de gestão de segurança da barragem. Tem de ser criado um escritório de segurança de barragem, em Belo Horizonte, no Quadriláte­ro Ferrífero.” O vazamento de óleo em um campo de exploração de petróleo da Chevron, na Bacia de Campos (RJ) levou a uma autuação a de R$ 60 milhões.

 ?? ROBERTO STUCKERT FILHO/PR ?? Visita. Dilma e o governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), sobrevoara­m ontem a área atingida pela lama no Estado
ROBERTO STUCKERT FILHO/PR Visita. Dilma e o governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), sobrevoara­m ontem a área atingida pela lama no Estado
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil