O Estado de S. Paulo

Orçamento fica sem abatimento do PAC

Ministro Joaquim Levy conseguiu que projeto do Orçamento do próximo ano mantivesse a meta fiscal de 0,7% do PIB, sem abatimento­s

- Adriana Fernandes Ricardo Brito

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, operou nos bastidores diretament­e com parlamenta­res da base aliada e da oposição para conseguir barrar proposta de abatimento de R$ 20 bilhões das despesas do Programa de Aceleração do Cresciment­o (PAC) da meta de superávit primário das contas públicas de 2016.

Numa reviravolt­a, a proposta de descontar os gastos com obras foi retirada do projeto de Lei de Diretrizes Orçamentár­ias (LDO) do próximo ano, que foi aprovado ontem pela Co- missão Mista de Orçamento (CMO). A LDO poderá ser votada no plenário do Congresso na terça-feira.

A presidente Dilma Rousseff já tinha decidido anteontem pelo abatimento de até R$ 20 bilhões, valor um pouco menor que a proposta anterior, de R$ 30 bilhões, do relator da LDO de 2016, deputado Ricardo Teobaldo (PTB-PE). Mas voltou atrás para viabilizar um acordo e garantir que a votação do projeto de lei que altera a meta fiscal de 2015 ocorra sem manobras da oposição que dificulte a aprovação.

Coube ao ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, avisar a pre- sidente da Comissão, senadora Rose de Freitas (PMDB-ES), que Dilma concordava em retirar a possibilid­ade de abater o PAC da meta fiscal de 2016. O telefonema ocorreu no momento em que, a portas fechadas, integrante­s do colegiado decidiam se iriam manter a dedução do PAC.

Meta cheia. Contrário à proposta, Levy corria o risco de perder mais essa batalha justamente no momento mais delicado para a sua permanênci­a no cargo. Uma nova derrota agora poderia fragilizar o ministro ainda mais, principalm­ente porque ele não escondeu que era defen- sor ardoroso da chamada meta “cheia”, sem os abatimento­s, que prevê um superávit primário de 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2016. O ministro queria evitar que uma meta menor abrisse espaço para maior flexibilid­ade nas contas públicas. O superávit primário é a economia que o governo faz

Flexibilid­ade O ministro do Planejamen­to, Nelson Barbosa, defendia uma meta com a regra do PAC para dar mais flexibilid­ade para administra­r choques que venham a reduzir ainda mais arrecadaçã­o. para pagar os juros da dívida pública. Levy atuou ligando para os parlamenta­res de oposição pedindo apoio para manter a meta cheia.

A atuação do ministro da Fazenda e a nova orientação do governo, repassada por Wagner a Rose de Freitas, foram decisivas para a mudança de posição dos parlamenta­res da base aliada. Em uma hora e meia, o colegiado voltou atrás da posição anterior, favorável ao abatimento, e na votação dos destaques retirou a possibilid­ade da dedução.

Integrante­s da Junta Orçamentár­ia, Jaques Wagner, o ministro do Planejamen­to, Nelson Barbosa, e o secretário exe- cutivo do Ministério da Fazenda, Tarcísio Godoy (Levy não participou do encontro), reuniram-se ontem antes da reunião da CMO e fecharam a questão em favor da mudança, após consultare­m Dilma. A definição sobre o abatimento da meta é decisiva para a forma de condução da política fiscal no próximo ano. A regra de abatimento permite, na prática, que o governo faça um superávit menor.

A avaliação no Planalto é de que a permissão de novos abatimento­s poderia passar sinal de frouxidão fiscal no momento em que o governo começa a deslanchar, ainda que timidament­e, as propostas do ajuste.

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