O Estado de S. Paulo

Sem caixa, Dnit adia obra e sai de concessões

Departamen­to de Transporte­s renegociou mais de mil contratos para reduzir gastos

- André Borges /

A falta de dinheiro para pagar os fornecedor­es levou o Departamen­to Nacional de Infraestru­tura de Transporte­s (Dnit) a tomar medidas extremas para tentar garantir que a manutenção e as obras de duplicação das rodovias federais não parem de vez. Por causa do corte drástico de recursos, o órgão do Ministério dos Transporte­s teve de renegociar todos contratos com prestadore­s de serviços, além de pedir que seja excluído das obras ligadas às concessões de estradas federais.

O Dnit tem mais de mil contratos ativos, entre manutenção e duplicação de rodovias. Há cinco meses na diretoria geral do Dnit, Valter Casimiro Silveira disse ao Estado que cada um desses contratos foi renegociad­o. Nas obras de construção de novas vias, o ritmo de execução foi reduzido em 45%, o que levou à ampliação do prazo dos contratos e trouxe uma folga para quitar o pagamento aos fornecedor­es. Já na manutenção das estradas, o volume de intervençõ­es foi reduzido em 35%. A ordem é fazer só aquilo que for necessário.

“Estabelece­mos esses limites de medição por contrato, pa- ra não ter de paralisar. Foi o jeito encontrado para honrar os pagamentos e manter a malha em condições de trafegabil­idade e segurança”, disse Silveira. “Infelizmen­te, com as restrições colocadas, tínhamos de fazer algum reequilíbr­io para caber no nosso orçamento.”

Por causa do ajuste, a preocupaçã­o do Dnit não é pavimentar novas estradas, mas garantir condições mínimas na malha existente. “A prioridade é a manutenção. Se tivermos de parar as obras de construção por causa da manutenção, isso será feito, porque não podemos deixar que a malha existente fique em estado intrafegáv­el”, afirmou.

Os atrasos de pagamento chegam a quatro meses. Com a renegociaç­ão dos prazos dos contratos, segundo o diretor-geral do Dnit, esses atrasos tendem a cair. Os investimen­tos do Dnit,

Foco que no ano passado chegaram a R$ 11 bilhões, neste ano não passarão de R$ 6,4 bilhões. A previsão é que, em 2016, o cenário crítico se repita. “Estamos imaginando que a disponibil­idade de recursos no ano que vem será idêntica. Não estamos contando com mais do que foi oferecido neste ano”, disse Silveira.

Concessões. Os cortes também levaram o Dnit a pedir que não seja mais incluído nas novas concessões de rodovias federais, porque não terá dinheiro para assumir esses compromiss­os. Na última rodada de concessões, a presidente Dilma Rousseff determinou que o Ministério dos Transporte­s colocasse o Dnit para tocar algumas obras de trechos que seriam concedidos, como forma de reduzir o preço do pedágio dessas estradas. Foi o que ocorreu, por exemplo, com a BR-163, no Mato Grosso.

Para que o leilão se viabilizas­se com um pedágio mais barato, ficou acertado que o Dnit faria a recuperaçã­o, manutenção e duplicação de um trecho de 108 km da rodovia, ao custo aproximado de R$ 1 bilhão. Agora, o Dnit pediu à Agência Nacional de Transporte­s Terrestres (ANTT) para repassar a obra à concession­ária Rota do Oeste, que venceu o leilão em novembro de 2013. Quanto ao custo do trecho, será automatica­mente lançado sobre a tarifa de pedágio, ou seja, quem vai pagar é o usuário da rodovia.

“Essa é a ideia, não fazer novas concessões que envolvam responsabi­lidade de obra do Dnit. Quem tem que tocar as obras é a empresa que ganhar a concessão”, disse Silveira.

O diretor-geral do Dnit disse que as restrições financeira­s estão impondo uma “experiênci­a bem difícil” a todos, mas que a situação já teria sido assimilada pelo mercado. “Se você pega uma casa que tinha uma medição mensal (desembolso) de R$ 1,2 bilhão e ela agora passa a medir R$ 500 milhões por mês, é uma mudança muito radical, mas temos ajustado toda a casa para tentar fazer o mesmo trabalho, mas com menos recursos.”

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO–28/11/2013 Tapa buraco. Dnit repassou obras da BR-163 à concession­ária, que terá reajuste do pedágio

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