Vendas do varejo caem pelo oitavo mês seguido
Com novo recuo, previsão é de um PIB igual ou menor ao do segundo trimestre
O varejo registrou em setembro a oitava retração seguida nas vendas. O recuo de 0,5% completa a maior sequência de quedas da Pesquisa Mensal de Comércio, apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) desde 2000. A redução na massa de salários pagos aos trabalhadores, as pressões inflacionárias e o crédito mais caro estão por trás do mau desempenho. De fevereiro a setembro, as perdas acumuladas chegam a 6,8%.
O resultado sinaliza uma deterioração ainda maior no PIB do terceiro trimestre. As vendas do comércio caíram 3% na passagem do segundo para o terceiro trimestre, o maior recuo em mais de 12 anos.
“Há condições de a projeção do PIB ficar igual ao resultado do segundo trimestre (-1,9%) ou ir para uma retração ligeiramente maior”, disse o economista Helcio Takeda, da Pezco Microanalysis. A Confederação Nacional do Comércio (CNC) espera que o setor mostre o pior desempenho da história. Por enquanto, o pior resultado foi em 1990, quando caiu 6,2%.
“Na primeira metade do ano, o PIB do comércio está em queda de 6,6%. Como os dados do terceiro trimestre foram piores, a gente apostaria que esse será o pior ano do comércio na história das Contas Nacionais”, disse o economista da CNC, Fábio Bentes. Em setembro, a queda nas vendas foi de 6,2% em comparação a igual mês de 2014. No varejo ampliado, que inclui veículos e material de construção, o recuo chegou a 11,5%. As dez atividades pesquisadas registraram retração.
“O reflexo do comércio é o que está ocorrendo com o poder de compra. É diferente da indústria, em que a produção está ligada a uma decisão do empresário. No comércio não, é compra mesmo”, avaliou Isabella Nunes, gerente da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE. Segundo ela, a decisão dos consumidores de diminuir as compras é justificada pela redução da renda, menos crédito e pressão inflacionária. “São esses três fatores combinados que podem explicar o recuo.”
Inflação e juros. A inflação teve impacto, sobretudo, no volume vendido pelos setores de supermercados e combustíveis. Dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mostram aumento 10% nos preços dos alimentos consumidos no domicílio nos 12 meses até setembro. No mesmo período, os combustíveis ficaram 11,1% mais caros.
Ao mesmo tempo, as taxas de juros do crédito para pessoas físicas subiram de 28,2% ao ano em setembro de 2014 para 37,4% ao ano em setembro de 2015, segundo dados do Banco Central. As incertezas no mercado de trabalho, com redução nas vagas com carteira assinada, contribuíram para a redução do consumo. “O trabalho com carteira assinada traz um pouco mais de segurança para o consumidor”, disse Isabella.
Após meses de sucessivas quedas, as vendas do varejo já estão 9,2% abaixo do pico registrado em novembro de 2014. “Não vai ter Papai Noel que salve o comércio. O resultado de 2015 vai piorar sob diversas óticas: vendas, emprego no setor e PIB”, previu Bentes.