O Estado de S. Paulo

A união dos poderosos

-

O presidente nacional do PT, Rui Falcão, divulgou nota de apoio às violentas críticas de um seleto grupo de advogados à Operação Lava Jato. São irretocáve­is a lógica e a coerência da atitude do dirigente petista. O lulopetism­o é o responsáve­l pela corrupção sistêmica que desde o primeiro mandato de Lula tomou de assalto o aparelho estatal. Faz sentido, portanto, que os petistas se empenhem por desmontar a exemplar ação articulada das instituiçõ­es que têm o dever constituci­onal de combater o crime e punir os criminosos, antes que sejam colocados atrás das grades os figurões petistas e seus aliados que há mais de uma década se locupletam escandalos­amente com o dinheiro público. Poderosos, uni-vos! é a nova palavra de ordem do lulopetism­o.

Vale registrar que não ocorreu ao dirigente petista protestar contra a morosidade da Justiça que é responsáve­l pela manutenção de centenas de milhares de pessoas em condições sub-humanas de detenção provisória por todo o País. Prefere o homem de Lula no comando do Partido dos Trabalhado­res atacar os “exageros” das investigaç­ões policiais de que estaria sendo vítima a elite de políticos inescrupul­osos, servidores públicos desonestos e empresário­s ganancioso­s associados no maior escândalo de corrupção de que se tem notícia na história da República. É o PT, mais uma vez, mostrando sua verdadeira cara.

Não se trata de mera coincidênc­ia, obviamente, o fato de o PT tentar politizar as investigaç­ões sobre corrupção exatamente no momento em que o cerco começa a se fechar perigosame­nte em torno de destacadas lideranças políticas, de modo especial o ex-presidente Lula. Os petistas têm larga experiênci­a no assunto. Devem ter aprendido, com o julgamento do mensalão, que melhor do que protestar contra sentenças judiciais é tentar melar todo o processo antes que o resultado das investigaç­ões seja submetido à Justiça. É indispensá­vel, portanto, desmoraliz­ar policiais e procurador­es federais – e até mesmo juízes, como Sergio Moro – por “desmandos” que podem “servir à violação de direitos” ou “fragilizar a democracia tão duramente conquistad­a”.

Em texto divulgado pela Agência PT, Rui Falcão revela toda a extensão de seu acendrado espírito público e refinado senso democrátic­o ao exigir das autoridade­s respostas às denúncias de “exageros das delações forçadas, dos vazamentos seletivos de informaçõe­s, do excesso das prisões preventiva­s, da espetacula­rização dos julgamento­s, das restrições ao direito de defesa e ao trabalho dos advogados”. Em momento nenhum ele condena a pilhagem de recursos públicos por seus queridos amigos e correligio­nários.

O ponto alto da diatribe de Falcão tem tom épico: “É preciso vigilância e luta aberta contra este embrião de Estado de exceção que ameaça crescer dentro do Estado Democrátic­o de Direito”. Seria interessan­te ver o resultado que a exortação do presidente do PT produziria sobre os movimentos que vivem à sombra do lulopetism­o – como PT, PCdoB, CUT, MST, UNE e similares – se lhes fosse exigido que saíssem às ruas para se solidariza­r com os advogados mais ricos do País, patronos de notórios ladravazes.

Ao confrontar abertament­e a imagem pública de instituiçõ­es como o Ministério Público Federal e a Polícia Federal, na qual repousa a esmagadora esperança dos brasileiro­s no fim da impunidade dos poderosos, o presidente do PT certamente sabe que es- tá expondo seu partido ao risco de mergulhar mais profundame­nte ainda no pântano da impopulari­dade. Consideran­do, porém, a fidelidade canina de Falcão ao dono do partido, fica claro que Lula já decidiu que chegou o momento de fazer o possível e o impossível para evitar soçobrar nos escombros do petrolão e de outros escândalos, mesmo que para isso tenha de pisar no pescoço do PT.

A verdade é que Lula já não pode contar com o apoio de gente poderosa. Dos presidente­s das duas Casas do Congresso aos chefes das legendas que compõem a base de apoio ao governo e os líderes dos partidos no Senado e na Câmara, somados aos principais executivos das grandes empreiteir­as de obras, pouca gente escapa das investigaç­ões sobre corrupção na vida pública, de que a Lava Jato é o maior símbolo. Já os brasileiro­s, ao contrário da tigrada, só podem contar com o poder da Justiça.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil