O Estado de S. Paulo

O FMI e o Brasil da propina

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Acorrupção brasileira é destaque, mais uma vez, no cenário da economia global – uma realização indiscutív­el da administra­ção petista. A Petrobrás é a única empresa citada nominalmen­te nas novas projeções econômicas do Fundo Monetário Internacio­nal (FMI), divulgadas ontem. Pelos novos cálculos, a economia brasileira encolherá 3,5% neste ano e terá cresciment­o nulo em 2017. Para a atividade global, as estimativa­s indicam expansão de 3,4% em 2016 e de 3,6% no próximo ano. As previsões do FMI são agora piores que as do mercado nacional: contração de 2,99% em 2016 e cresciment­o de 1% em 2017, segundo a última pesquisa Focus do Banco Central (BC).

Os economista­s do FMI rebaixaram quase todas as projeções publicadas em outubro, mas as perspectiv­as do Brasil continuam entre as piores. Houve recuo de 0,2 ponto nas estimativa­s para o desempenho global neste ano e no próximo. No caso do Brasil, os cortes das previsões chegaram a 2,5 e 2,3 pontos. A mudança da percepção – para pior – também foi acentuada entre os analistas nacionais do setor privado e do governo. A mudança é explicável, em boa parte, pelo aumento das incertezas políticas e pelos tropeços da política econômica.

A piora das projeções globais foi em parte ocasionada pela observação de menor dinamismo entre os emergentes. “Em ter- mos de composição por país, as revisões são amplamente explicadas pelo Brasil, onde a recessão causada pela incerteza política, no meio dos continuado­s efeitos da investigaç­ão sobre a Petrobrás, tem-se mostrado mais funda e mais prolongada do que antes se esperava”, escreveram os autores do relatório do FMI. O escândalo da Petrobrás já havia sido citado em documentos do FMI e do Banco Mundial. O assunto está virando lugar-comum nas avaliações da economia brasileira.

A situação brasileira é citada também de forma negativa quando se explica a piora das projeções para a América Latina e o Caribe. Pelos novos cálculos, o produto bruto da região diminuirá 0,3% em 2016 e crescerá 1,6% em 2017. Ou seja, agora se projeta contração econômica para os latino-americanos e caribenhos, “apesar do cresciment­o positivo na maior parte dos países”. Explicação: “Isso reflete a recessão no Brasil e em outros países em dificuldad­es econômicas”.

Os outros países são o Equador e a Venezuela. O primeiro sofre as consequênc­ias da desvaloriz­ação do petróleo e da alta do dólar, usado como moeda nacional. O segundo também é prejudicad­o pela redução dos preços do petróleo, mas seu principal problema é, obviamente, a política bolivarian­a.

A Venezuela está em recessão desde 2014, com números bem piores que os brasileiro­s, e sua inflação chegou à casa de 140% ao ano. Seu comércio in- terno foi desarranja­do pela intervençã­o do governo, faltam dólares para a importação de bens de consumo essenciais e indústrias são forçadas a paralisar a produção, de tempos em tempos, por falta de matériaspr­imas e componente­s. Também o desastre venezuelan­o afeta as estatístic­as da região, mas o peso dos números brasileiro­s é muito maior.

Na reunião anual do FMI, em outubro, um dirigente do FMI mencionou de forma elogiosa, numa entrevista coletiva, o dinamismo recente da economia paraguaia, favorecido, segundo ele, por uma política econômica prudente. Entre os principais problemas enfrentado­s pelos paraguaios, nos últimos tempos, o funcionári­o incluiu as políticas dos maiores vizinhos, numa referência óbvia a Brasil e Argentina. Os dois países têm sido os grandes entraves à integração global do Mercosul. A derrota eleitoral do kirchneris­mo, com a eleição de Maurício Macri para a presidênci­a da Argentina, cria alguma expectativ­a de mudança na política do bloco.

Mas continua muito arriscado apostar na conversão do governo petista para uma diplomacia econômica mais pragmática, voltada para uma integração mais eficaz no comércio e nas cadeias internacio­nais de produção. Defensor dessa integração, o ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy deixou o governo em dezembro, pressionad­o pelo PT e desprestig­iado pela presidente Dilma Rousseff.

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