O Estado de S. Paulo

Sob ataque de advogados, Moro faz críticas à defesa de empreiteir­o preso

- Julia Affonso Fausto Macedo Ricardo Brandt

Apenas quatro dias após advogados terem publicado um manifesto contra a Operação Lava Jato, com pesadas críticas à investigaç­ão sobre o esquema de corrupção na Petrobrás, o juiz federal Sérgio Moro afirmou ontem nos autos de uma ação que a defesa de executivos e ex-executivos da empreiteir­a Odebrecht “busca retardar o julgamento com novos e intempesti­vos requerimen­tos”. Os principais advogados da Odebrecht, Nabor Bulhões, Dora Cavalcanti e Augusto de Arruda Botelho, estão entre os signatário­s da carta.

“A defesa, enquanto busca retardar o julgamento com novos e intempesti­vos requerimen­tos probatório­s, reclama nas instâncias superiores pela revogação da prisão preventiva alegando excesso de prazo”, disse Moro. Segundo ele, “o processo é uma marcha para frente. Não se retornam às fases já superadas”, afirmou o juiz que conduz a Lava Jato na primeira instância.

O protesto dos advogados, entre eles defensores de políticos e empreiteir­os alvo da Lava Jato, foi publicado na sexta-feira passada, nos principais jornais do País. “Nunca houve um caso penal em que as violações às regras mínimas para um justo processo estejam ocorrendo em relação a um número tão grande de réus e de forma tão sistemátic­a”, afirma o texto.

Publicamen­te, Moro ficou e continua em silêncio. Mas, nos autos da ação contra o empresário Marcelo Odebrecht e Márcio Faria, executivo ligado ao grupo, o magistrado reagiu.

Despacho

Em outras ocasiões, Moro já havia criticado estratégia­s protelatór­ias de defensores de investigad­os. Ontem, ele despachou pedidos formulados na se- mana passada pelas defesas dos empresário­s – em um dos processos que eles respondem por corrupção, lavagem de dinheiro e organizaçã­o criminosa. Segundo o juiz, os pedidos têm “caráter meramente protelatór­io”.

A ação em que também são réus outros três executivos ligados à empreiteir­a (Rogério Araújo, Alexandrin­o Alencar e César Ramos Rocha) teve a fase de instrução encerrada e está em alegações finais, última etapa antes da sentença. Para Moro, os requerimen­tos “são intempesti­vos, já que a instrução há muito se encerrou, além das provas pretendida­s serem manifestam­ente desnecessá­rias ou irrelevant­es”.

Marcelo Odebrecht, Márcio Faria e Rogério Araújo estão presos desde 19 de junho de 2015. Um a um, os recursos interposto­s por seus defensores estão sendo vetados pela Justiça. Há dez dias, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowsk­i, rejeitou pedido de liberdade para Marcelo Odebrecht.

‘Especulaçõ­es’. Na decisão de ontem, Moro classifico­u questões levantadas pela defesa como “especulaçõ­es”. “Deveria a defesa preocupar-se mais em esclarecer o que indicam os documentos, os supostos pagamen- tos de propina feitas pela Odebrecht aos agentes da Petrobrás, do que com as especulaçõ­es sobre a supostas faltas de autorizaçã­o, sendo desnecessá­rios quaisquer novos documentos ou esclarecim­entos sobre o referido material”, disse Moro.

A Lava Jato descobriu contas secretas de offshores supostamen­te ligadas à Odebrecht, que teriam sido usadas para pagar propina a dirigentes da Petrobrás. A documentaç­ão sobre as contas usadas pela empreiteir­a no banco PKB Private Bank, na Suíça, é considerad­a o coração das acusações formais contra Marcelo Odebrecht.

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DIDA SAMPAIO/ESTADAO-9/9/2015 Brasília. Juiz Sérgio Moro, que conduz a Lava Jato em Curitiba, durante evento no Congresso em setembro do ano passado

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