O Estado de S. Paulo

Legislativ­o convoca chavistas para explicaçõe­s sobre decreto de exceção

Defensoria e parentes de opositores detidos se reúnem hoje

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A oposição venezuelan­a, que comanda a Assembleia Nacional desde o dia 5, criou ontem uma comissão para analisar o decreto de emergência econômica enviado pelo presidente Nicolás Maduro e anunciou que convocará autoridade­s chavistas para dar explicaçõe­s. Um dos pontos mais controvert­idos do decreto – o poder temporário para intervir no setor privado – foi atacado diretament­e pela bancada da Mesa da Unidade Democrátic­a (MUD).

Os ministros convocados serão os das pastas de Alimentaçã­o e das Finanças. Além deles, serão chamados pela Assembleia Nacional os presidente­s da estatal do petróleo PDVSA e do Banco Central, afirmou o presidente da comissão legislativ­a que avalia o decreto, deputado José Guerra.

O texto que decreta emergência econômica, um dos estados de exceção previstos pela Constituiç­ão venezuelan­a, foi promulgado por Maduro na sextafeira. Pela legislação do país, a Assembleia Nacional tem até oi- to dias para analisar o decreto, apresentar emendas e votá-lo. Após o processo, o texto ainda precisa ser avaliado pelo Tribunal Supremo de Justiça (TSJ).

Na tarde de ontem, Guerra questionou as intenções do presidente com o decreto. Entre as possibilid­ades abertas pela previsão constituci­onal está a intervençã­o temporária no setor privado e a transferên­cia de recursos do Tesouro para áreas e planos não contemplad­os no orçamento já aprovado.

“Se não vão expropriar ninguém, retirem isso do decreto para que não se crie incerteza”, afirmou o deputado da oposição ao chavismo. O parlamenta­r, que é economista por formação, afirmou que o país “não tem nenhum dólar poupado” e enfrenta “restrições por todos os lados”.

Tramitação difícil. Analistas consideram que o caminho para a aprovação do decreto de emergência econômica não será fácil em razão das fortes críticas da oposição que fazem prever a ocorrência de novos conflitos entre os poderes com o consequent­e agravament­o das ten- sões políticas na Venezuela.

A Assembleia Nacional deve levar o texto a sessão plenária entre amanhã e sexta-feira para o debate final, disse à Associated Press o deputado opositor Américo De Grazia.

Maduro afirma que pretende, com a medida, combater a grave crise econômica que atravessa o país, com uma inflação sem precedente­s – que, em setem- bro, chegou a 141,5% –, graves problemas de desabastec­imento, um forte déficit fiscal e uma profunda recessão que poderá ser agravada com a queda dos preços do petróleo, a principal fonte de receitas da Venezuela.

As autoridade­s afirmam que a crise é consequênc­ia de uma “guerra econômica” promovida por empresário­s e opositores. As medidas propostas pelo

O responsáve­l pela Defensoria do Povo da Venezuela, o chavista Tareck William Saab, vai se reunir hoje com Lilian Tintori, mulher do líder opositor preso Leopoldo López, e outros representa­ntes e parentes de opositores detidos, que pediram o apoio dele para a aprovação da Lei de Anistia. Na quinta-feira, Saab receberá o Comitê de Vítimas das Guarimbas, que reúne parentes de vítimas do movimento La Sali-

governo para enfrentar a crise são o incremento dos controles na economia, o aumento da arrecadaçã­o de impostos e a possibilid­ade de elevar o preço da gasolina, que é vendida a cerca de um centavo de dólar por litro e é a mais barata do mundo.

“Não foram apresentad­as as condições para aprová-lo (o decreto)”, disse De Grazia, acrescenta­ndo que até ontem não ha- da, onda de protestos contra o governo que terminou com 43 mortos. López foi acusado de instigar os manifestan­tes. A líder do partido opositor Vente Venezuela, María Corina Machado, exigiu ontem a destituiçã­o do encarregad­o da prisão Ramo Verde – onde López está detido –, acusado de insultar a mulher dele, Lilian, e a mãe, Antonieta Mendoza, na frente de seus dois filhos menores. A Assembleia Nacional, controlada pela oposição, “tem de exigir ao ministro (da Defesa Vladimir) Padrino que destitua e investigue o coronel Viloria, responsáve­l por esses atos infames”, disse María Corina em sua conta no Twitter.

via surgido nenhuma voz da oposição respaldand­o o texto.

Governista­s e oposição entraram em conflito há menos de uma semana nas discussões sobre as impugnaçõe­s de três deputados opositores do Estado de Amazonas, suspensos pelo TSJ sob a alegação de supostas irregulari­dades nas eleições legislativ­as realizadas no dia 6 de dezembro.

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CARLOS GARCIA RAWLINS/REUTERS Escassez. Venezuelan­os enfrentam filas por alimentos

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