Investigação aponta que EI tem 3,5 mil escravos
Em relatório, ONU afirma que grupo jihadista pode ter cometido genocídio e matou cerca de 19 mil em 2015 na Síria e no Iraque
O Estado Islâmico (EI) pode “potencialmente ter cometido um genocídio” no Iraque e escravizado 3,5 mil pessoas. Esse é o resultado de uma investigação publicada ontem pelo Alto-Comissariado da ONU para Direitos Humanos, que denuncia as violações do grupo jihadista e destaca que o conflito entre governo e extremistas matou 18,8 mil apenas em 2015.
Dados coletados pela ONU apontam que, além dos mortos, 36,2 mil feridos foram registrados entre janeiro e outubro de 2015 e a violência é hoje “assombrosa” – 3,8 mil mortes foram identificadas apenas entre maio e outubro do ano passado. O conflito deixou cerca de 3,2 milhões de refugiados, entre eles 1 milhão de crianças, que buscarão uma saída da crise, eventualmente, na Europa.
Mas é o genocídio que mais chama a atenção das autoridades. “A perseguição contra minorias é uma realidade. Ou pagam, ou se convertem ou fogem”, disse Francesco Motta, o diretor do escritório da ONU em Bagdá. Um dos principais alvos do EI, segundo ele, é a minoria yazidi. “A intenção era destruir um povo”, indicou.
“O Estado Islâmico continua cometendo de forma sistêmica e generalizada violações e abusos do direito humanitário internacional e dos direitos humanos”, afirmou o relatório da ONU, que denunciou ainda o descobrimento de dezenas de valas comuns.
Alvos
Segundo a investigação, as vítimas são “todosos que se opõem ao EI, pessoas filiadas ao governo, como membros das forças de segurança, funcionários, e profissionais como advogados, médicos ou jornalistas, além de líderes religiosos”.
O grupo jihadista teria criado o próprio sistema judicial, com castigos desumanos, amputações e a aplicação de centenas de sentenças de morte. As execuções públicas teriam se multiplicado, com casos de mortes “por disparos, decapitação, queimando vivo ou jogando a pessoa do último andar de um edifício”.
Segundo Motta, mais de 1,7 mil pessoas foram mortas dessa maneira brutal. Falando por telefone de Bagdá, ele admite que o número de vítimas ainda assim é subestimado e centenas de casos não puderam ser verificados.
Em relação às crianças, a ONU afirmou que entre 800 e 900 teriam sido sequestradas de Mossul para passar por um “treinamento militar e educação religiosa”.
Em Anbar, dezenas foram assassinadas por tentar fugir da convocação para lutar. “O EI continua abusando sexualmente de crianças e mulheres e, em especial, conduz a escravidão sexual”, apontou.
O grupo Estado Islâmico não é o único responsável pelos abusos. Segundo as Nações Unidas, as forças de segurança do governo e seus aliados – milícias e grupos tribais – também são acusadas de organizar sequestros e assassinatos ilegais. “Muitos desses incidentes ocorrem com pessoas suspeitas de colaborar com o EI”, indicou o documento.