Murray cobra transparência no tênis
Escocês diz que é uma hipocrisia uma casa de apostas patrocinar o primeiro Grand Slam da temporada após revelação do escândalo de corrupção
O escândalo de corrupção envolvendo um sistema de apostas e combinação de resultados no tênis, divulgado pela emissora britânica BBC e pelo site BuzzFeed, tem movimentado os bastidores do Aberto da Austrália.
Ontem, o escocês Andy Murray não fugiu do tema durante sua entrevista coletiva e pediu “transparência” ao esporte. Além disso, o vice-líder do ranking da ATP criticou o fato de o primeiro Grand Slam da temporada contar com o apoio financeiro da William Hill, uma das principais casas de apostas da Europa.
“Acho um pouco hipócrita. Os jogadores não podem ser patrocinados por casas de apostas, mas os torneios podem. Não entendo como isso funciona. Acho meio estranho.”
Por outro lado, o suíço Stan Wawrinka não vê problema no envolvimento e acredita que a parceria pode até ajudar o esporte. “Se as casas de apostas vierem para o nosso esporte, podem assegurar que não vai acontecer corrupção porque perderiam muito dinheiro. Não é bom ter manipulação para o tênis, mas também não é bom para elas. Então, acho que pode ser apenas positivo.”
Depois de o tenista número 1 do mundo, Novak Djokovic, admitir que já lhe ofereceram US$ 200 mil para entregar um jogo, Andy Murray negou que tenha sido procurado para fraudar o resultado de uma partida. O britânico, entretanto, reconhece que tenistas no início de carreira podem ser seduzidos quando assediados por apostadores.
“É importante que, desde jovens, os jogadores sejam bem ensinados e instruídos sobre o que fazer nessas situações e saibam como uma decisão dessa pode afetar sua carreira, além de todo o esporte”, ressalta.
Mas o assunto não ficou restrito ao continente australiano. A dificuldade financeira enfrentada pelos atletas que não estão na elite do tênis é apontada pelo brasileiro João Souza, o Feijão, como um facilitador ao suborno. Para ele, a baixa remuneração de alguns torneios pode abrir caminho para os aliciadores da máfia de apostas.
“Os torneios de Grand Slam, Masters 1000, ATP 500 e 250 são muito bem pagos. Mas e o resto? Quem joga Challenger ou Future acaba pagando para jogar. O cara que não tem patrocínio, tem família, vai fazer o quê?”, argumenta.
Feijão revela que foi procurado durante um torneio na Colômbia pelas redes sociais, mas ignorou a oferta. “Eu já recebi uma vez, alguns anos atrás, uma proposta, por meio do Facebook. Não lembro com quem ia jogar, um cara me perguntou se eu aceitava perder por 2 sets a 0. Li e não respondi.”
O jogador conta já ter ouvido falar em propostas feitas a outros tenistas nos valores de ¤ 25 mil euros, R$ 10 mil e US$ 20 mil dólares. Apesar disso, o brasileiro condena quem aceita esse tipo de facilitação.
Assim como Feijão, o duplista Bruno Soares também não re- cebeu a polêmica com surpresa. “Todo mundo sabe que isso acontece no meio do tênis há 20 anos, e tem de correr atrás dos responsáveis. Cabe aos órgãos responsáveis por investigar descobrir e punir quem está fazendo esse tipo de coisa”, afirma.
Thomaz Bellucci, tenista número 1 do País, também cobrou punição. “Deveria ter uma punição muito dura aos envolvidos. Não pode haver jogadores como esses no circuito. Isso acaba sujando o nosso esporte.”
Defesa.
A Unidade de Integri- dade do Tênis (TIU), parceira das entidades ATP, WTA, Grand Slam Board e ITF, rejeita qualquer evidência de que combinações de resultados tenham sido acobertadas ou não tenham sido investigadas e promete tolerância “zero” com qualquer aspecto de corrupção. O presidente da ATP, Chris Kermode, garante que nenhum atleta está imune de investigação.
De acordo com a denúncia da BBC e do site BuzzFeed, diversas partidas de Grand Slam e 28 tenistas estariam sob suspeita.