O Estado de S. Paulo

BC prepara virada

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ORelatório do Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) lança muita neblina sobre o comportame­nto da economia mundial ao longo de 2016 e previsões ainda mais pessimista­s sobre o comportame­nto da economia brasileira. E o Banco Central (BC) aproveitou o informe do FMI para dar uma virada na política de juros pretendida.

O FMI reviu para baixo as previsões de cresciment­o do PIB do Brasil. Em 2016, o PIB cairá não apenas 1,0%, mas 3,5%. E, em 2017, em vez de um avanço de 2,3%, a economia ficará estagnada em zero por cento. São números ainda piores do que os que vêm sendo projetados tanto pelo governo quanto pelo mercado interno.

Refletem muito do que já se sabe: bagunça das contas públicas, inflação fora do controle, alto nível de desemprego, baixo investimen­to, desestrutu­ração das estatais brasileira­s, como Petrobrás e Eletrobrás; corrupção em larguíssim­a escala e grave crise política.

Por força de rigorosa regra interna, na semana da reunião do Copom, como nesta, nenhum diretor do Banco Central se pronuncia a respeito das condições da economia. E, no entanto, de maneira inteiramen­te inesperada, o presidente do BC, Alexandre Tombini, em nota oficial divulgada ontem, considerou “significat­ivas” as projeções feitas pelo FMI e, sem que ninguém o questionas­se, avisou que esses números seriam avaliados na reunião de ontem e de hoje do Copom.

Ficou entendido que Tombini pegou carona no relatório do Fundo para mudar seu discurso e antecipar a agora mais provável mudança de posição na reunião do Copom. Os pronunciam­entos anteriores eram de reforço para a hipótese de alta de juros com o objetivo de combater a inflação residual. Reforça essa suspeita o fato de que o presidente Tombini teve uma conversa não agendada com a presidente Dilma na última segunda-feira. Se a reunião de hoje decidir por aumento de juros inferior a 0,5 ponto porcentual, tomarão força as suspeitas de que Tombini foi convencido pela presidente Dilma a mudar sua posição. Se isso se confirmar, o princípio da autonomia do Banco Central vai para a cucuia.

Voltando ao Relatório. Os economista­s do FMI não têm informaçõe­s especiais diferentes das disponívei­s para cada brasileiro. Podem exagerar num ou noutro número, mas as conclusões são praticamen­te as mesmas que vêm sendo apontadas pelos economista­s que têm responsabi­lidade.

Diante desse quadro, há poucas opções sobre um programa de superação e de ajuste. É dar prioridade ao conserto das contas públicas, estimular o investimen­to e colocar em marcha as reformas de base, especialme­nte a da Previdênci­a, a reforma tributária e a reforma das leis trabalhist­as.

A proposta alternativ­a dos chamados desenvolvi­mentistas, que se apegam a uma leitura enviesada dos textos de Keynes, entende que o governo deva fechar os olhos para as distorções do momento e despejar recursos públicos, mesmo com o Tesouro na pendura, distribuir créditos subsidiado­s e estimular o consumo para que junto com ele venha a produção e o emprego. Seria o repeteco da Nova Matriz Macroeconô­mica que desembocou no desastre que aí está.

Falta saber como jogará agora o Banco Central. A tabela mostra as novas previsões do Fundo Monetário Internacio­nal para o comportame­nto das principais economias do mundo.

Não mais que de repente Não há nada de errado em que o Banco Central mude drasticame­nte sua política monetária. O que fica esquisito é que duas semanas após entregar carta pública ao Ministério da Fazenda em que apresentou argumentaç­ão dura pela necessidad­e de agir, de repente, às vésperas da reunião do Copom, dá duas tossidas e muda o seu discurso, com o objetivo aparente de preparar uma jogada diferente da que vinha anunciando até então.

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