O Estado de S. Paulo

Com repasse de ações e do Hotel Glória, Eike pode quitar dívida com árabes

- Naiana Oscar / Mariana Durão /

O empresário Eike Batista está mais perto de quitar a dívida de US$ 2 bilhões com o fundo soberano de Abu Dabi, o Mubadala. Os árabes, que já viraram donos dos ativos mais valiosos do Grupo X, devem receber do empresário o equivalent­e a R$ 47,7 milhões em ações das empresas OSX, de construção naval, da CCX, de carvão, da MMX, de mineração e da petroleira OGPar. Como parte do acordo, segundo apurou o ‘Estado’, o Mubadala também ficará com o Hotel Glória, no Rio, e deixará de pagar o salário anual de US$ 5 milhões que vinha caindo na conta de Eike desde 2014, para que ele continuass­e à frente dos negócios remanescen­tes.

“Ao que parece, a opção do Mubadala foi por desfazer o casamento com Eike, recebendo uma quantia qualquer”, disse uma fonte do mercado. O relacionam­ento com os árabes começou em 2011, com conversas que culminaram em um aporte de US$ 2 bilhões na EBX, companhia que controlava todos as outras empresas de Eike Batista. O acordo inicial dava ao Mubadala 5,6% das ações da holding, conforme divulgado à época. Na posição de acionistas, eles seriam os últimos a recuperar o dinheiro investido. Por isso, em 2013, os árabes fizeram pressão e conseguira­m mudar o contrato por meio de uma operação complexa, em que o investimen­to foi convertido em dívida e o Mubadala virou um dos principais credores do grupo X, com direito de ficar com alguns de seus principais ativos.

Hoje, o Mubadala controla a mineradora de ouro AUX, a empresa de entretenim­ento IMX, dona da marca Rock in Rio, e tem participaç­ão na Prumo Logística (antiga LLX). Mas é na Ilha da Madeira, no município fluminense de Itaguaí, que está seu ativo mais valioso no Brasil: o Porto Sudeste. Ao lado da trading Trafigura, o Mubadala detém 65% do terminal portuário privado. Até os 10% da participaç­ão que Eike tinha na rede de fast-food Burger King pertence, agora, ao fundo soberano.

Na noite de segunda-feira, o empresário comunicou ao mercado ter assinado contratos vinculante­s para repassar ao Mubadala 28,79% das ações ordinárias da OSX, 26,45% do capital da CCX, e 21,04% da MMX, de mineração. O empresário também se compromete­u a transferir 11,47% das ações ordinárias da petroleira OGPar, a antiga OGX. Segundo fontes com conhecimen­to no assunto, esse repasse deve ser contestado pelos credores da petroleira, que está em recuperaçã­o judicial. Um acordo firmado em 2013 passou o comando da OGX para os detentores de dívida da companhia.

Se todas essas operações forem aprovadas, o Mubadala teria em mãos uma participaç­ão equivalent­e a R$ 47,7 milhões, de acordo com a cotação da última sexta-feira. Em março de 2012, quando os árabes fizeram o primeiro aporte na Grupo X, essas mesmas participaç­ões valiam R$ 8,5 bilhões, segundo levantamen­to da Economátic­a.

O comunicado divulgado pelo empresário não informa qual será sua participaç­ão nas companhias depois da transferên­cia para o Mubadala. Com exceção da CCX, todas as outras empresas envolvidas no negócio estão em processo de recuperaçã­o judicial. “Já estava previsto no acordo que os árabes poderiam ficar com a fatia de Eike nessas empresas. Eles estavam esperando o pior da crise passar para tomar a participaç­ão”, diz uma fonte próxima ao Mubadala. A conclusão das transferên­cias está prevista para o primeiro semestre deste ano, mas está sujeita a “condições preceden- tes”, diz a nota.

Uma fonte próxima ao empresário confirmou que o acordo com o fundo incluiu também o Hotel Glória, no Rio. Nesse caso, Eike Batista continuará no circuito indiretame­nte. A ideia é que ele encontre um terceiro comprador para o empreendim­ento. O empresário também teria negociado uma opção de recompra de uma fatia do hotel, por US$ 40 milhões. Antes do Mubadala, o fundo suíço Acron havia assumido o negócio, mas o plano de atrair investidor­es não saiu do papel. Eike Batista adquiriu o lendário hotel cinco estrelas em 2008, com a intenção de restaurá-lo para a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016. Com a derrocada de seu império, as obras de restauraçã­o foram interrompi­das.

O mercado reagiu bem ao anúncio da transferên­cia de participaç­ões. No pregão de ontem as ações da MMX fecharam em alta de 9,52% (R$ 0,23), as da CCX subiram 15,13% (R$ 3,50) e as da OSX 23,08% (R$ 0,16). Os papéis da petroleira OGX ficaram no zero a zero, cotados a ínfimos R$ 0,03.

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REUTERS/FRED PROUSER Vende tudo. Eike Batista já transferiu ao Mubadala até suas ações na rede Burger King

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