O Estado de S. Paulo

‘DIÁLOGOS SÃO COISA DE CHEFE DE BANDO’

FHC diz que Lava Jato é marco histórico, chama Lula de ‘irresponsá­vel’ e sente ‘cheirinho de golpe’ em nomeação para a Casa Civil

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Para Fernando Henrique Cardoso, os diálogos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva revelados em intercepta­ções telefônica­s da Lava Jato “não têm nada de republican­o, nada de democrátic­o, é coisa de chefe de bando”. Leia a entrevista:

O senhor se preocupa com o acirrament­o da disputa política? Sim. Eles estão colhendo tempestade. Quem começou com a ventania foram eles do PT. Faz muito pouco tempo eu fui almoçar com o prefeito de São Paulo (Fernando Haddad-PT) e depois fui com ele ao teatro. Para mostrar que, por mais que você possa discordar, você não pode transforma­r seu adversário em inimigo. Fazer o jogo do conflito é fazer o jogo contra as instituiçõ­es e contra os interesses da democracia. Essa não é a posição da oposição e não deve ser.

Os grampos divulgados pela Lava Jato com o presidente Lula convocando militantes para a briga... Quer que eu diga o que é? Irresponsá­vel. Um líder nacional não tem o direito de jogar parte do povo contra outras partes do povo e o conjunto contra as instituiçõ­es. É um palavreado totalmente inadequado. O que mais me chocou nesses áudios, sem discutir se eles são legítimos ou não, se são verdadeiro­s... Não se discute se eles são verdadeiro­s, eles são verdadeiro­s, foi o baixo teor do palavreado e o tipo de atitude revelado através deles. (Os diálogos) Não têm nada de republican­o, nada de democrátic­o, é uma coisa de chefe de bando.

Como o senhor interpreta a volta de Lula ao Planalto, a nomeação dele como ministro da Casa Civil? A presidente Dilma deu um sinal de que renuncia ao poder. Só que não foi institucio­nal. Se é para renunciar, passa para o vice-presidente da República. Aí tem um cheirinho de golpe, de golpe palaciano. A função de um ministro da Casa Civil é de coordenaçã­o administra­tiva. Se você confunde essa coordenaçã­o com a política, dá a sensação de que vão usar a função para fazer politiquic­e.

A intenção foi mudar o foro? Em política, não adianta você julgar a intenção, são os fatos.

A presidente Dilma sempre repetia que o governo dela apoiava a Lava Jato. De um mês pra cá, ela mudou... Houve uma mudança efetiva no comportame­nto da presidente Dilma. O discurso que ela fez (na posse de Lula), o modo como as pessoas foram convocadas, transforma­ram o palácio num segmento político. Ela fez uma defesa política de seus companheir­os, abraçou seus companheir­os. Mudou de posição. A posição dela era de magistrada. Ela podia até dizer: “eu, como magistrada, acho que foram além do limite nisto e naquilo”. Pode ser. Eu também respeito direitos indi-

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Operação. Para FHC, Lava Jato fortalece instituiçõ­es como a PF

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