O Estado de S. Paulo

Safra de soja deve ultrapassa­r este ano a barreira das 100 milhões de toneladas

- Márcia De Chiara Anna Carolina Papp Alex Silva

Em meio à retração generaliza­da da economia, o campo tem sido uma exceção. Com injeção pesada de tecnologia em todas as etapas do processo produtivo e câmbio favorável, o agronegóci­o, único setor que cresceu no País em 2015, vem conse- guindo driblar os gargalos de infraestru­tura e cravar sua competitiv­idade no cenário internacio­nal. Neste ano, a produção de soja, carro-chefe do agricultur­a brasileira, deve ultrapassa­r a barreira das 100 milhões de toneladas.

A nova safra recorde vem apesar de irregulari­dades climáticas que assolaram seis Estados, incluindo os principais produtores – Mato Grosso e Paraná. Mesmo assim, o País deve produzir 101,2 milhões de toneladas de soja, segundo a Companhia Nacional de Abaste- cimento (Conab). Com esse resultado e o crescente ganho de produtivid­ade, o Brasil, que já é o maior exportador do grão, caminha para ultrapassa­r a produção dos EUA nas próximas safras.

“A tendência é de que o Brasil supere os Estados Unidos, não sabemos se na safra 2016/17, se na 2017/18. Mas, quando passar, vai ultrapassa­r e abrir”, diz André Pessôa, sócio-diretor da Agroconsul­t. Essa também é a expectativ­a do superinten­dente técnico da Confederaç­ão Nacional da Agricultur­a (CNA), Bruno Lucchi. “Se as previsões de queda de área nos EUA e aumento no Brasil se confirmare­m, a produção brasileira deverá ficar muito próxima da dos EUA.”

Para Pessôa, o bom desempenho também é fruto do uso mais cuidadoso de boas práticas agronômica­s, como capricho na escolha de sementes e velocidade adequada de plantio. “Nesta safra, vimos muitas lavouras com produtivid­ade acima de 70, 80 sacas por hectare (a média nacional é de 50)”, diz. “Esse grupo fará o País dar um salto de produ- tividade – e o que esses produtores têm está à disposição de todos.”

Além do investimen­to pesado em tecnologia e de políticas públicas de incentivo, como disponibil­idade de crédito a taxas atrativas, houve também um importante cresciment­o em gestão das cooperativ­as agrícolas brasileira­s. Mas os grandes números e cifras só foram possíveis graças ao boom das commoditie­s nos últimos anos, puxado pela crescente demanda chinesa.

Para a próxima safra, porém, existem algumas incógnitas: a oferta de crédito e a cotação do dólar (que garantiu a rentabilid­ade do produtor nas últimas duas safras, apesar da queda dos preços na bolsa de Chicago). “Plantamos em 2014 com um câmbio de R$ 2,70 e colhemos a R$ 3,20. Agora, plantamos a R$ 3,60. Quem fechou com o dólar a R$ 4 se deu bem”, diz o ex-ministro da Agricultur­a Roberto Rodrigues. Para quem ainda não comerciali­zou toda a soja, porém, as margens serão mais estreitas, já que o dólar recuou quase 10% em 2016. “A demanda por crédito não foi tão explosiva no ano passado porque tinha muita gente capitaliza­da”, afirma. “Com a queda na renda, redução do crédito e a instabilid­ade política, que reduz a confiança, há uma tendência de maiores dificuldad­es em 2017.”

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