O Estado de S. Paulo

Temer abriga aliados de Cunha no Planalto

- Julia Lindner Erich Decat / RELAÇÕES

Afastado pelo Supremo Tribunal Federal da presidênci­a da Câmara e do exercício do seu mandato, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ainda mantém o poder de influência sobre a cúpula do Palácio do Planalto. Nas negociaçõe­s para a montagem da equipe do presidente em exercício Michel Temer (PMDB), dois assessores ligados a Cunha tiveram os nomes confirmado­s ontem em postos estratégic­os da estrutura do governo.

Na lista está o advogado Gustavo do Vale Rocha, nomeado por Temer para o cargo de subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil da Presidênci­a da República. Ele foi indicado pela Câmara dos Deputados para integrar o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) no biênio 2015-2017.

Na sabatina realizada no Senado, em maio de 2015, Rocha confirmou, após perguntas de parlamenta­res, advogar para o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, mas apenas em ações privadas, sem relação com o Ministério Público.

Procurado pela reportagem, Rocha não quis se manifestar sobre o assunto. A função que o advogado vai desempenha­r na estrutura do Palácio do Planalto é responsáve­l pela elaboração de projetos e atos normativos de iniciativa do Poder Executivo. O cargo já foi ocupado pelos ministros do Supremo Gilmar Mendes e Dias Toffoli quando participav­am dos governos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, respectiva­mente.

Secretaria de Governo. Além de assegurar a indicação para a subchefia de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Cunha também contará com outro aliado lotado na antessala do novo ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima.

Conforme revelou a Coluna do Estadão, o assessor especial de Eduardo Cunha até a semana passada, Carlos Henrique Sobral, assumiu como chefe de gabinete do ministro. Sobral passou a dar expediente ontem no Palácio do Planalto e, na ausên-

Gustavo do Vale Rocha Foi advogado de Cunha e indicado pela Câmara ao Conselho Nacional do MP.

Carlos Henrique Sobral Ex-assessor de Cunha vai chefiar gabinete da Secretaria de Governo.

André Moura Cunha articula indicação do deputado (PSC) para a liderança de governo na Casa.

Eduardo Cunha Réu na Operação Lava Jato, o peemedebis­ta foi afastado do mandato de deputado federal e da presidênci­a da Câmara por decisão do Supremo.

cia de Geddel, recebeu alguns parlamenta­res que foram ao local em busca de informação sobre a articulaçã­o do governo com o Congresso.

Com as indicações, Temer demonstra contar com Cunha como um dos seus principais operadores na Câmara, mesmo ele tendo sido afastado do mandato. No Supremo, no âmbito da Operação Lava Jato, Cunha é réu em uma ação penal e é alvo de quatro inquéritos.

Cunha ainda comanda o grupo de deputados conhecido por “centrão”, formado por PMDB, PP, PR, PTB, PSC e PSD, e do qual Temer depende para fazer avançar na Casa sua agenda legislativ­a. O grupo atua também para eleger André Moura (PSCSE) como novo líder do governo na Câmara e influencia­r na eleição para a liderança da bancada do PMDB. Junto com essa movimentaç­ão, um grupo de partidos tanto da base quanto da oposição a Temer tem defendido a renúncia de Cunha.

Em entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo – exibida na noite de domingo –, quando questionad­o sobre uma eventual renúncia do correligio­nário, Temer disse: “Tanto faz, para mim, isso não altera nada”.

Advogado. Com saída de Gustavo do Vale Rocha do Conselho Nacional do Ministério Público, pessoas próximas a Cunha não descartam a possibilid­ade de o advogado Renato Oliveira Ramos ser o novo in- dicado pelo deputado para ocupar a vaga. Ramos, atualmente, está lotado no gabinete da presidênci­a da Casa. Ele foi um dos principais assessores do deputado Jovair Arantes (PTB-GO) na elaboração do relatório de impeachmen­t da presidente Dilma Rousseff, votado pela Câmara.

O advogado também atuou contra o pedido de impediment­o do presidente em exercício, Michel Temer. Em abril, Ramos enviou ao ministro do Supremo Marco Aurélio Mello uma manifestaç­ão em que defende o arquivamen­to do pedido. No documento, o advogado da Casa argumenta que a Corte não pode interferir no ato legislativ­o.

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WILTON JUNIOR/ESTADÃO–3/5/2016
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