O Estado de S. Paulo

Presidente desautoriz­a fala de titular da Justiça

Temer afirma que manterá a tradição de indicar para o comando do Ministério Público Federal o procurador mais votado pela categoria

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O presidente em exercício Michel Temer divulgou nota ontem para afirmar que vai manter a tradição de indicar para o comando do Ministério Público Federal o procurador mais votado pela categoria. Foi um posicionam­ento contrário ao declarado pelo ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, que defendeu como legítimo o chefe do Executivo escolher um nome sem precisar seguir a preferênci­a da classe. O comunicado foi a primeira manifestaç­ão de Temer na qual o peemedebis­ta desautoriz­ou um ministro desde que assumiu o governo, na quinta-feira passada.

“Quem escolhe o procurador-geral da República, a partir de lista tríplice do Ministério Público Federal, é o presidente da República”, disse Temer, conforme a nota divulgada pela assessoria de imprensa do peemedebis­ta.

O texto foi emitido no fim da manhã de ontem, em resposta a uma entrevista de Moraes ao jornal Folha de S.Paulo, na qual o ministro, que é professor de Direito Constituci­onal da USP, afirmou que o presidente tem a prerrogati­va de escolher um nome para a chefia do Ministério Público independen­temente da preferênci­a da categoria.

“O que garante a autonomia do Ministério Público, e isso foi muito discutido na Constituin­te, não é só a forma de escolha”, afirmou Moraes na entrevista. “O que garante a autonomia é a forma de destituiçã­o do procurador-geral. Ele tem hoje um mandato de dois anos. E só pode ser destituído se o presidente da República pedir e o Senado aprovar por maioria absoluta.”

Desde 2001, a Associação Nacional dos Procurador­es da República (ANPR) promove eleições para apresentar ao Executivo uma lista com os três procurador­es mais votados, como forma de preservar a autonomia e independên­cia do Ministério Público Federal em relação a i nvestigaçõ­es que possam atingir o governo.

Quando chegou à Presidênc i a pel a pr i meira v e z , e m 2003, Luiz Inácio Lula da Silva

Tradição passou a indicar ao cargo de procurador-geral da República o nome mais votado na eleição da ANPR, como forma de marcar posição diferencia­da em relação ao governo anterior. Em seus dois mandatos no Executivo federal, o tucano Fernando Henrique Cardoso sempre escolheu para comandar o Ministério Público o hoje advogado Geraldo Brindeiro, apelidado pelos petistas de “engavetado­r-geral da República” como crítica ao que a oposição na época considerav­a uma forma de proteção do governo do PSDB.

Interpreta­ção. A declaração de Moraes chegou a ser interpreta­da como uma possibilid­ade de Temer descartar a prática estabeleci­da por Lula e mantida por Dilma, o que tanto o presidente em exercício como o ministro negaram. Após a manifestaç­ão pública de Temer por escrito, o próprio titular da Justiça também divulgou nota na qual reafirmou nunca ter tratado da sucessão na Procurador­ia-Geral da República com o peemedebis­ta, informação divulgada pelo jornal.

“Conforme consta na própria entrevista, (Moraes) tão somente fez uma análise da previsão constituci­onal que garante plena autonomia da Chefia do Ministério Público da União”, diz o comunicado divulgado pelo ministério.

Temer só escolherá o procura-

A Associação Nacional dos Procurador­es da República (ANPR) divulgou nota ontem na qual destaca o “avanço institucio­nal” do processo de escolha do procurador-geral da República por meio de lista tríplice eleita pela classe e diz que o presidente em

dor-geral da República que substituir­á o atual ocupante do comando do Ministério Público, Rodrigo Janot, se permanecer no cargo e houver o impediment­o definitivo da presidente afastada Dilma Rousseff pelo Senado. O mandato termina em 2017 e o período de afastament­o da petista não pode superar 180 dias contados a partir da última quinta-feira, mesmo que o Senado não conclua o processo de julgamento da presidente.

O nome indicado pelo Executivo precisa ser sabatinado pelo Senado. Depois, a maioria dos senadores precisa apro- exercício Michel Temer “mantém diálogo aberto com o Ministério Público Federal, manifestan­dose sempre favoravelm­ente à independên­cia das instituiçõ­es”.

A nota foi divulgada após o novo ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, afirmar em entrevista que a Constituiç­ão dá ao presidente da República a prerrogati­va de escolher um nome para o comando do Ministério Público Federal, sem obrigatori­edade de seguir a lista tríplice.

var a indicação. O mandato de procurador-geral da República tem duração de dois anos.

Divergênci­as. A divulgação das notas de Temer e Moraes sobre a sucessão no Ministério Público Federal foi a primeira divergênci­a pública entre o presidente em exercício e um ministro de Estado. No entanto, outros integrante­s da equipe do peemedebis­ta também já afirmaram posições diferentes das defendidas por colegas de Esplanada ou pelo próprio Temer.

Ontem, por exemplo, o jornal Valor Econômico publicou

A entidade diz confiar que a sucessão do atual procurador-geral, Rodrigo Janot, se dará com base na eleição na categoria. “Há um procurador-geral da República escolhido por seus pares, apontado pela chefia de Estado e com aprovação pela maioria absoluta do Senado. A ANPR tem absoluta confiança de que sua sucessão dar-se-á no mesmo formato democrátic­o e institucio­nal das últimas sete indicações”, afirma a nota da entidade.

reportagem na qual o ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria-Geral) afirmou ser pessoalmen­te contra a recriação da CPMF, mas que a defenderia se for uma política de governo. Na sexta-feira, o titular da Fazenda, Henrique Meirelles, havia dito que a volta do tributo poderia ser necessária para o governo equilibrar suas contas.

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ANDRE DUSEK/ESTADAO Descompass­o. Michel Temer e Alexandre de Moraes durante reunião sobre a Olimpíada

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