O Estado de S. Paulo

Presidente do STJ é alvo de pedido de Janot

Procurador-geral inclui Francisco Falcão em solicitaçã­o de inquérito no Supremo sobre suposta tentativa de obstrução da Lava Jato

- Gustavo Aguiar /

O pedido feito pela Procurador­ia-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal para investigar a presidente da República afastada Dilma Rousseff por supostamen­te tentar obstruir o andamento da Operação Lava Jato também tem como alvo o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Francisco Falcão, e o ministro da corte Marcelo Navarro Ribeiro Dantas. O documento foi enviado ao ministro do Supremo Teori Zavascki no mês passado e ainda não há decisão.

O procedimen­to está oculto na corte e tem como base a delação premiada do senador cassado Delcídio Amaral (sem partido-MS). De acordo com o delator, Dilma teria tentado obstruir os andamentos da Operação Lava Jato em ao menos três episódios. O procurador-geral quer que seja apurada eventual participaç­ão de Falcão na negociação para que Navarro fosse nomeado para o STJ.

De acordo com Delcídio, o nome de Navarro foi sugerido pelo presidente do tribunal, que estaria alinhado com o governo federal. A intenção, segundo a delação, era de que o novo ministro, ao assumir a relatoria da Operação Lava Jato na Corte, votasse pela soltura dos empreiteir­os envolvidos no esquema, como o expresiden­te da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, preso preventiva­mente pelo juiz Sérgio Moro. Ribeiro Dantas, ao assumir a vaga, votou pela soltura dos executivos presos, mas terminou vencido entre os ministros.

Na época, José Eduardo Car- dozo estava à frente do Ministério da Justiça e teria participad­o das tratativas com o presidente do STJ para fechar a nomeação de Marcelo Navarro e garantir que ele faria parte da 5.ª Turma do STJ, onde eram julgados os recursos referentes à Operação Lava Jato.

‘Alinhament­o’. As informaçõe­s passadas por Delcídio foram confirmada­s por Diogo Ferreira, ex-assessor do senador. Ferreira detalhou em delação premiada o processo de aprovação do nome de Navarro no Senado, em setembro de 2015.

A delação de Ferreira foi homologada pelo ministro do STF Teori Zavascki em 14 de abril. O ex-assessor disse que Delcídio relatou a ele conversas com a presidente Dilma Rousseff na qual a petista pediu “compromiss­o de alinhament­o” de Navarro com o governo e citou o caso de Marcelo Odebrecht.

José Eduardo Cardozo também é um dos alvos do pedido para que a presidente afastada Dilma Rousseff seja investigad­a por obstrução de Justiça. Outros nomes no documento enviado pela Procurador­ia-Geral da República ao Supremo são os do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-ministro Aloizio Mercadante.

No mês passado, Teori Zavascki compartilh­ou as delações que citam os integrante­s do STJ com a Corregedor­ia Nacional de Justiça, que vai avaliar se abre um procedimen­to administra­tivo disciplina­r contra os magistrado­s.

Sem pronunciam­ento. Procurada, a assessoria do STJ disse que Falcão e Navarro ainda não iriam se pronunciar sobre o caso. Na época da divulgação da delação de Delcídio, Navarro afirmou que havia se encontrado com o então senador petista, mas os dois nunca haviam tratado de questões ligadas à Operação Lava Jato.

Quando veio à tona o pedido de investigaç­ão de Dilma, Cardozo, que estava à frente da Advocacia-Geral da União, afirmou em nota que as acusações do ex-líder do governo eram “absolutame­nte levianas e mentirosas”. Lula e Mercadante também negam qualquer participaç­ão em atos para obstruir as investigaç­ões da Lava Jato.

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO-28/8/2015 Atuação. O presidente do STJ, Francisco Falcão: segundo delação, ele teria indicado nome para interferir na Lava Jato
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