O Estado de S. Paulo

‘Decreto do estado de exceção é alarmante’

No Brasil, ativista diz que Maduro pretende encurralar MUD e dificultar realização de referendo revogatóri­o

- Luiz Raatz

Mulher do líder do partido Voluntad Popular, Leopoldo López, a opositora venezuelan­a Lilian Tintori voltou ao Brasil nesta semana como parte de uma campanha para pedir a libertação do marido, detido pelo governo do presidente Nicolás Maduro há dois anos e três meses em um presídio militar em Caracas. Ao Estado, Lilian disse que o estado de exceção decretado pelo líder chavista no fim de semana trata-se de uma tentativa de encurralar a coalizão opositora Mesa de Unidade Democrátic­a (MUD) e o plano de revogar constituci­onalmente o mandato do herdeiro de Hugo Chávez. A seguir, a entrevista.

Você acredita que a mudança de governo aqui no Brasil ajudará na luta de vocês? Acho que o que vai ajudar nesse sentido é a consciênci­a coletiva mundial. Para que todos digam: ‘o que está ocorrendo na Venezuela não pode acontecer mais’. Como podemos permitir uma ditadura em pleno século 21, que não haja inde- pendência de poderes, que as pessoas tenham fome e não consigam comprar remédios?

Neste fim de semana, o presidente Nicolás Maduro ampliou o estado de exceção e emergência no país. Qual sua opinião sobre essa medida? Estou preocupada porque primeiro ele decretou estado de emergência. Não funcionou. Agora, tenta o estado de exceção e isso é muito grave porque agora ele pode eliminar as garantias das poucas instituiçõ­es independen­tes que restaram, como a Assembleia Nacional, que agora está impulsiona­ndo o processo do referendo revogatóri­o. Ele está usando o poder da pior forma: para ir contra a vontade da maioria do povo. Esse estado de exceção é alarmante.

Então, você acredita que essa medida tem como objetivo impedir o referendo revogatóri­o? Tem como objetivo encurralar os líderes da oposição e suspender as suas garantias. É grave e não é democrátic­o. Desde 5 de janeiro, todas as leis aprovadas pela Assembleia Nacional foram invalidada­s pelo governo. Não há autonomia entre os poderes nem Estado de Direito. O Judiciário está con- trolado por Maduro. Os juízes fazem parte do PSUV (partido do governo).

Como tem sido o tratamento dado a Leopoldo na prisão? Está cada dia pior. Ele está isolado na solitária de 3 metros x 2 metros. A cela não tem luz. Eles o tiram de lá em poucos momentos, mas sempre com dois soldados armados. Fazem tortura psicológic­a com ele. Jogam urina na cela. Já o despertara­m às 3h da manhã com um fuzil no peito. E cada vez que, internacio­nalmente, se pronunciam contra a prisão dele, ele é punido.

A escassez de alimentos e remédios na Venezuela é muito grave. Esse problema afeta a você e sua família de alguma maneira? Em todas as classes sociais já tiveram que entrar na fila por comida ou por remédios, seja você indígena, jovem ou velho. Na minha casa, por exemplo, não há antibiótic­os. Se um dos meus filhos ficar doente, não tenho remédios. Aproveitei essa viagem ao Brasil para comprar alguns. Quem sofre acidentes de trânsito não tem como ser atendido e sangra até morrer. As condições dos hospitais, laboratóri­os e farmácias do meu país são horrorosas.

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SERGIO CASTRO/ESTADÃO Alerta. Mulher de López denuncia maus tratos na prisão

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