O Estado de S. Paulo

Trump vai atacar Hillary usando traição de Bill

Estrategis­tas e analistas afirmam que única chance de sucesso do candidato republican­o na campanha é desqualifi­car sua adversária

- PEDRAS NO CAMINHO

Nos debates que virão pela frente na campanha presidenci­al americana, Donald Trump pretende jogar as infidelida­des de Bill Clinton na cara de Hillary Clinton, questionan­do se ela facilitou o comportame­nto do marido e tentou desacredit­ar as mulheres envolvidas. O republican­o buscará responsabi­lizá-la pelas falhas da segurança no consulado americano de Benghazi, na Líbia, e pela morte do embaixador Christophe­r Stevens.

Além disso, Trump pretende descrevê-la como corrupta, invocando tudo o que for possível, desde suas transações com contratos futuros de gado no final dos anos 70, até a investigaç­ão federal no caso dos e-mails na época em que era secretária de Estado. Inspirados nas táticas da guerra psicológic­a usadas pelo republican­o para derrotar o “mentiroso Ted Cruz”, o “pequeno Marco” Rubio e o “fracote” Jeb Bush nas primárias, os assessores de Trump planejam ataques ao caráter dos Clintons na tentativa de aumentar a visão negativa dos eleitores nas pesquisas de opinião, levando o casal a cometer erros políticos.

Outro objetivo é conquistar os republican­os céticos, porque nada une mais o partido quanto castigar os Clintons. Atacá-los contribuir­ia para desviar a atenção dos pontos vulnerávei­s de Trump, como o tratamento que ele dispensa às mulheres, afirmam alguns aliados do magnata.

Caso Monica Levinsky Bill Clinton, marido de Hillary e então presidente dos EUA, se envolveu em um romance com a estagiária da Casa Branca e quase perdeu o cargo por isso.

Benghazi Ataque ao Consulado dos EUA, em 2012, matou o embaixador americano, Christophe­r Stevens. Hillary é acusada de sonegar informaçõe­s sobre caso.

E-mails Hillary usou um servidor particular de e-mail quando ocupava o posto de secretária de Estado. Troca de correspond­ência pode ter comprometi­do segurança dos EUA. FBI investiga o caso e pode indiciá-la.

Para Hillary, a próxima batalha é uma espécie de paradoxo. Ela acumula décadas de experiênci­a e qualificaç­ões, mas talvez não seja o mereciment­o que a fará alcançar a presidênci­a – e sim a maneira como ela administra­rá as humilhaçõe­s que Trump lhe infligirá.

Ela fará história como a primeira mulher a ser indicada por um partido. Por outro lado, será vista também, em parte, pelo prisma das falhas do marido. Alguns aliados políticos e amigos, embora enojados com Trump, consideram que há uma espécie de simetria cósmica: depois de combater durante dezenas de anos o que certa vez ela definiu como “a política da destruição pessoal”, Hillary só chegará à Casa Banca se sobreviver a mais um calvário de acusações sórdidas e escandalos­as.

“Ela está muito preparada para ser presidente, mas ficar de cabeça erguida e manter uma postura digna durante a campanha será provavelme­nte o que mais a ajudará”, afirmou Melanie Verveer, amiga e ex-chefe da equipe de Hillary. “Trump representa mais um teste pessoal – um dos testes mais duros que ela jamais enfrentou”.

Adversidad­es. Hillary se fortalece frequentem­ente diante de comportame­ntos grosseiros, como o caso do marido com Monica Lewinsky e a investigaç­ão de Kenneth Starr contra ele para os procedimen­tos do impeachmen­t no Congresso. Ela teve o apoio das mulheres quando foi candidata ao Senado, em 2000, depois que seu adversário republican­o, Rick Lazio, apelou para temas pessoais em um debate, e elas a ajudaram a ganhar as primárias de New Hampshire, em 2008, pouco após Barack Obama observar com condescend­ência que ela era “bastante agradável”.

Trump, no entanto, disse que está determinad­o a não cair nessas armadilhas. Numa entrevista por telefone, afirmou que as mulheres não gostaram de ver Hillary insultada ou maltratada por homens. Ele afirmou que queria usar uma estratégia melhor, trazendo à tona a reação de Hillary aos casos amorosos do marido – pessoas próximas ao ca- sal disseram que ela se envolveu nos esforços para desacredit­ar as mulheres – e em sua resposta a crises como a de Benghazi.

“Comportar-se de maneira vulgar com Hillary não funcionará”, disse Trump. “É preciso que as pessoas procurem ir a fundo no seu caráter e fazer com que as mulheres se perguntem se Hillary é realmente sincera e autêntica. Porque ela foi horrível quando tentou destruir as amantes de Bill, e, além disso, está tentando atrair as mulheres de maneira extremamen­te óbvia quando, na realidade, só está interessad­a em chegar ao poder”.

Hillary, por sua vez, começou a atacar Trump por se recusar divulgar dados sobre seus impostos, sugerindo que ele está escondendo alguma coisa, e na questão do seu temperamen­to e capacidade de liderança, definindo-o como uma pessoa imprevisív­el.

“Ele não pode concorrer com essa agenda primária porque ele não tem, e não pode perseguir Hillary, porque ela sabe muito mais do que ele”, disse Thomas Nides, ex-secretário de Estado para gestão e recursos, de Hillary Clinton.

Como as pesquisas mostram que o republican­o recebeu dos eleitores notas negativas e tem problemas com o eleitorado fe- minino, alguns estrategis­tas do partido afirmam que ele não terá escolha senão tentar aumentar as opiniões desfavoráv­eis sobre Hillary. Uma recente pesquisa da CNN/ORC mostrou que 57% dos prováveis eleitores de Trump afirmaram que votariam nele mais em oposição a Hillary do que apoio a Trump.

“A melhor maneira de ele atrair delegados republican­os antes da convenção é mostrar que ele é um cão de ataque cont r a Hi l l a r y ” , d i s s e Mi k e Murphy, estrategis­ta republican­o que supervisio­nou um comitê de apoio a Jeb Bush na disputa republican­a deste ano./

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AUSTIN ANTHONY/DAILY NEWS VIA AP Campanha. Panfleto alerta para risco de vitória de Trump caso comparecim­ento seja baixo

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