O Estado de S. Paulo

Tempestade derruba 177 árvores, deixa 1 morto, 8 feridos e bairros sem luz em SP

- Fábio de Castro Fabiana Cambricoli Edison Veiga

Uma tempestade com rajadas de vento de mais de 50 km/h deixou ontem uma pessoa morta e pelo menos oito feridas em São Paulo. O Corpo de Bombeiros registrou a queda de 177 árvores durante a tarde, uma delas no Largo da Concórdia, região central da capital, que matou uma mulher e feriu um homem e uma criança. Na zona oeste, a marquise de uma padaria desabou, deixando dois feridos. Havia registros de falta de luz nos Distritos de Parelheiro­s e Grajaú, no extremo sul, e em bairros da zona oeste.

A menina de 2 anos, atingida no Largo da Concórdia, foi levada para o Pronto-Socorro da Santa Casa. Segundo os bombeiros, a criança sofreu intervençã­o intensa, de mais de uma hora, para recuperar sinais vitais. Às 21 horas, seu quadro era grave. Outro ferido no local foi um homem de 42 anos, socorrido pelos bombeiros, cuja situação clínica não foi divulgada.

No Viaduto do Chá, na região central, a queda de uma estrutura de vidro causou ferimentos leves em duas pessoas. O desabament­o de um telhado na Rua Boa Vista, também no centro, deixou mais dois feridos leves.

Às 21 horas, cinco horas após a chegada da chuva, o cenário na região das Avenidas Professor Alfonso Bovero e Doutor Arnaldo, na zona oeste, era de destruição. Em um raio de 200 metros, cinco árvores estavam no chão. Quase toda a área estava sem luz, com exceção da Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Fátima, que tem gerador. Nem por isso, o padre deixou de sentir o estrago. “O fio de alta tensão queimou e clareou até o quarto onde durmo”, contou José Maria Botelho, de 47 anos.

Os moradores caminhavam com lanternas para conferir danos. “Em 30, 40 segundos, veio um vento muito forte que parecia um tornado. Na hora não dava para enxergar nem um metro adiante”, contou o comerciant­e Antonio Nunes, de 51 anos. Susto. Pouco adiante, no Sumaré, a marquise da Padaria Real desabou, deixando mais dois feridos leves. Segundo o gerente da Real, João Pereira dos Santos, de 45 anos, a tragédia poderia ter sido maior, se a ventania tivesse acontecido em um dia de maior movimento. “Acho que nem foi nem um minuto e caiu tudo”, diz. Uma banca de jornal na frente da padaria desabou durante o vandaval.

Perto, na Avenida Sumaré, uma árvore caiu sobre a pista na altura do 1.180. Diarista de um apartament­o, Maria Eugênia da Silva, de 39 anos, tinha acabado de sair do trabalho. “Foi um susto. A Prefeitura deveria cuidar melhor dessas árvores. Toda chuva mais forte acontece isso”, criticou.

Em Perdizes, na zona oeste, a farmacêuti­ca Luciana Souza, de 33 anos, chegava em seu apartament­o pouco antes das 18h quando a rajada de vento começou, acompanhad­a de chuva. “Tive de subir sete andares de escada porque a luz acabou. Quando cheguei ao apartament­o, o quarto e a sala estavam alagados. Tinha deixado as janelas fechadas, mas acho que o vento foi tão forte que abriu frestas, por onde a água entrou. Cheguei a pensar em tornado.” A farmacêuti­ca entrou em contato com a Eletropaul­o e foi informada que a energia só seria restabelec­ida às 6 horas de hoje.

Houve também chuva de granizo em diferentes áreas da capital. Segundo o Centro de Gerenciame­nto de Emergência­s (CGE), apesar do vento intenso, as chuvas foram rápidas e não causaram pontos de alagamento na cidade. O CGE registrou 12 rajadas de ventos entre a madrugada e a tarde de ontem, com velocidade­s variando de 30,5 km/h a 57,4 km/h. Nessa velocidade final, as rajadas são capazes de derrubar grandes árvores e destelhar casas, de acordo com a Escala Beaufort de classifica­ção de ventos.

O vendaval foi registrado nos Aeroportos de Congonhas (zona sul), Campo de Marte (zona norte) e Cumbica (Guarulhos), além dos bairros de Santana (zona norte), Lapa (zona oeste) e Vila Mariana (zona sul). “Quando há a aproximaçã­o de uma frente fria, os ventos ficam mais fortes por causa das diferenças de pressão e temperatur­a. Mas percebemos que a ocorrência de rajadas foi maior do que o normal”, afirmou o técnico em meteorolog­ia do CGE Adilson Nazário. De acordo com os meteorolog­istas da Climatempo, as fortes pancadas de chuva e as rajadas de vento que causaram estragos na cidade de São Paulo foram provocadas por uma linha de instabilid­ade que se formou, no início do dia, na divisa entre São Paulo e Paraná, chegando à região da capital por volta das 16 horas. Outro fator que contribuiu para aumentar a intensidad­e dos ventos foi o deslocamen­to, pelo litoral da Região Sul, de um ciclone extratropi­cal considerad­o forte e de grande extensão.

Uma linha de instabilid­ade, segundo a Climatempo, é um conjunto de nuvens densas, do tipo cúmulos-nimbos – cuja extensão vertical é maior que 15 quilômetro­s e se desloca de for- ma interligad­a, aumentando a intensidad­e dos temporais e potenciali­zando os ventos. “É comum termos ventania e chuva forte na passagem desse tipo de sistema”, informou a Climatempo, logo antes do temporal.

De acordo com meteorolog­istas, o fenômeno também influencio­u o clima no litoral de toda a Região Sudeste do País, aumentando a possibilid­ade de registro de ressacas e colaborand­o para o aumento da intensidad­e dos ventos. Próximos dias. Além disso, depois de um domingo ensolarado, uma frente fria atingiu ontem o território paulista, deixando o tempo encoberto e provocando pancadas de chuva em todas as regiões.

Ela começa a se afastar hoje, mas uma frente com ar polar deve avançar ainda esta semana pelo Sudeste e a mínima deve chegar a 14°C na quinta-feira. A expectativ­a é de que uma frente polar, bem mais forte, atinja São Paulo na próxima semana.

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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO Vítimas. Queda de árvore no Largo da Concórdia, provocada por ventania, matou uma mulher e deixou dois feridos
 ?? ALEX SILVA/ESTADÃO ?? Destruição. Marquise da Padaria Real, no Sumaré, caiu e feriu várias pessoas
ALEX SILVA/ESTADÃO Destruição. Marquise da Padaria Real, no Sumaré, caiu e feriu várias pessoas

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