Haddad usa agenda pública falsa para fazer ‘pegadinha’
Comentarista fez críticas à falta de atividades externas do prefeito; Lei de Acesso à Informação foi violada, diz expert
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), publicou uma agenda pública falsa para fazer uma “pegadinha” com o comentarista da Rádio Jovem Pan Marco Antônio Villa. A gestão municipal divulgou a agenda de Had- dad por volta das 17 horas de anteontem informando que, a partir das 8h30 de ontem, o prefeito faria “despachos internos”. A agenda com um só compromisso foi propositalmente falsa, conforme declarou o próprio prefeito em sua página oficial no Facebook.
Na postagem, com o título “Trote num pseudointelectual”, Haddad diz que Villa tem comentado as agendas públicas “com o conhecimento de quem nunca administrou um boteco”. “Mas, hoje, para que os ouvintes tenham uma pálida ideia deste embuste, resolvemos substituir, por algumas horas, a minha agenda pela de outro político, apenas para vê-lo comentar, uma vez na vida, o dia a dia de quem ele lambe as botas”, explica o prefeito.
Villa é comentarista de um programa jornalístico na rádio entre 7h30 e 10 horas. Haddad esperou que o jornalista criticasse a agenda para só então divulgar os compromissos verdadeiros do dia. A publicação de Haddad foi feita por volta das 13 horas de ontem, uma hora após a Prefeitura divulgar a agenda correta. A reportagem apurou que, embora não tenha nominado no post, o político ao qual Haddad se referiu é o governador Geraldo Alckmin (PSDB), que no dia 5 publicou agenda em que também informava somente “despachos internos”. Procurado, o governo do Estado não se manifestou.
Crítica. Para o professor de Direito Administrativo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Silvio Ferreira, o prefeito violou o princípio de publicidade, conduta prevista na Constituição para autoridades públicas, além da Lei de Acesso à Informação, que determina ao poder público a “gestão transparente da informação”. “Esse não é o comportamento que uma administração pública deveria ter. Embora pudesse ter suas razões para estar aborrecido, não poderia utilizar um canal público de divulgação de informações com essa finalidade”, diz o especialista.
Ferreira destaca, porém, que é “exagerado e desproporcional” falar em improbidade administrativa. “A informação divulgada por um meio oficial tem de ser verdadeira. Mas não é caso de improbidade. Fica no campo da censura, da reprovação do comportamento”, afirma.
Omisso. Ao Estado, Villa disse que o prefeito é “mentiroso, omisso, medíocre e incapaz”. “Haddad está incomodado que eu leio a agenda (ao vivo) e vou ler até o último dia de governo”. O comentarista ressalta que não vai processar o prefeito e “a população vai dar sua resposta nas urnas”. “E quem lambe botas é ele, que lambeu botas do Lula e do Maluf em 2012, quando foi candidato a prefeito.”