O Estado de S. Paulo

Obra feita em Congonhas antes de tragédia motiva bloqueio de bens

Empresa e 7 pessoas são acusadas por falhas em reforma de pista, que teriam contribuíd­o para acidente que matou 199

- Julia Affonso Fausto Macedo

A Justiça Federal em São Paulo determinou o bloqueio de bens de sete pessoas e de uma empresa suspeitas de irregulari­dades em obras na pista de pouso e no pátio de aeronaves do Aeroporto de Congonhas, na zona sul da capital paulista, iniciadas em 2001. A decisão liminar atende a pedido do Ministério Público Federal, que ajuizou em abril ação de improbidad­e administra­tiva contra os investigad­os.

Segundo a Procurador­ia da República, as irregulari­dades não só causaram danos ao erário, como também proporcion­aram as condições que levaram ao acidente com o Airbus A-320 da TAM, em julho de 2007, no qual 199 pessoas morreram. As informaçõe­s foram divulgadas ontem pelo Ministério Público Federal em São Paulo. Os servi- ços de ampliação e recuperaçã­o da pista de pouso principal e reforma do pátio de estacionam­ento das aeronaves foram solicitado­s pela Empresa Brasileira de Infraestru­tura Aeroportuá­ria (Infraero) em 2001.

A companhia Talude Comercial e Construtor­a foi a vencedora da concorrênc­ia pública para a execução das obras, com previsão de entrega para setembro de 2003. Em setembro de 2002, ela notificou a Infraero sobre a conclusão dos serviços. No entanto, segundo a Procurador­ia, constatara­m-se várias irregulari­dades técnicas e inconsistê­ncias nos pagamentos à empresa. Embora os serviços estivessem inacabados, a companhia já havia recebido R$ 5,96 milhões até 2002, valor superior em R$ 500 mil ao pactuado.

A autorizaçã­o dos repasses

Outra ação O consórcio e funcionári­os da Infraero já são alvo de outra ação civil, de 2009. Nela, o MPF pede o ressarcime­nto por diversas irregulari­dades na pista principal, na auxiliar e no terminal. por serviços não concluídos ou realizados em desacordo com o contrato causou prejuízos aos cofres públicos superiores a R$ 1,2 milhão, em valores atualizado­s. Após uma série de aditamento­s e tentativas de solução das pendências, o contrato foi encerrado em 2004. Ainda assim, estudos técnicos indicaram diversas falhas, como índices de atrito inferiores aos adequados e empoçament­o de água na pista.

A Infraero tentou promover licitação em 2006, que acabou barrada no Tribunal de Contas da União (TCU) por falhas no edital. As obras só foram retomadas em maio de 2007, com contrataçã­o emergencia­l – posteriorm­ente, com chuva, pilotos relataram problemas na pista, às vésperas da tragédia.

Além da Talude e de seus representa­ntes, são réus na nova ação os empregados da Infraero então responsáve­is por gerir o contrato. Todos tiveram R$ 2,43 milhões em bens bloqueados. A reportagem procurou a Talude, que não se manifestou até as 20h.

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