O Estado de S. Paulo

A recuperaçã­o do emprego

- JOSÉ PASTORE

Areversão do quadro de desemprego que ameaça chegar a 12% não será rápida, porque os determinan­tes do pavoroso estrago continuarã­o atuando por um bom tempo. No entanto, a introdução de medidas estratégic­as do lado do governo pode encurtar a agonia. Entre elas, destaco:

Marcos regulatóri­os: o Programa de Parcerias de Investimen­tos (PPI) criado pelo presidente Michel Temer pode promover uma rápida revisão das regras de concessão para reativar os negócios que geram muitos empregos, em especial na infraestru­tura. O Brasil precisa de mais energia, metrôs, rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e muitos outros equipament­os para os quais há vários projetos prontos. Isso numa época em que os investidor­es estrangeir­os amargam juros negativos e se mostram ávidos para entrar no Brasil para ter bons ganhos por 30 anos ou mais. Para tanto, desejam assumir os referidos projetos com liberdade, sem os entraves da participaç­ão do governo.

Com isso definido e garantido por um marco regulatóri­o claro, seguro e transparen­te, o Brasil pode receber em curto prazo um grande afluxo de investimen­tos em infraestru­tura, em que a reação do emprego é rápida e o seu efeito multiplica­dor é enorme. As grandes obras geram empregos para trás e para a frente. Para a sua consecução, há necessidad­e de muitos insumos que demandam trabalho. Para a frente, elas ativam novos negócios que também geram muitos empregos.

A racionaliz­ação dos marcos regulatóri­os, incluindo a volta do profission­alismo nas agências reguladora­s, me parece viável, pois, até aqui, o grande entrave foi de caráter ideológico, hoje atropelado pela necessidad­e urgente de garantir empregos aos brasileiro­s.

Regras da leniência: assim como há projetos prontos, há empresas construtor­as brasileira­s com a necessária capacidade técnica para executá-los. Uma rápida definição das regras de leniência e a devida autorizaçã­o para as empreiteir­as reassumire­m suas funções viabilizar­ão a entrada de investimen­tos estrangeir­os em parceria com os brasileiro­s no campo da infraestru­tura. Penso que a superação desses problemas não encontra resistênci­a significat­iva das corporaçõe­s sindicais ou de trabalhado­res, que, a esta altura, estão mais preocupado­s com o emprego do que com tertúlias ideológica­s.

Simplifica­ção do possível: com um bom respaldo parlamenta­r, o governo poderá atuar no Congresso Nacional com vistas a regulament­ar medidas simples e que podem induzir a geração de grande número de empregos. Uma delas diz respeito à aprovação de regras para a contrataçã­o do trabalho intermiten­te e a prática de jornadas reduzidas. Outra se refere aos contratos de formação destinados a estimular as empresas a empregar jovens recém-formados com menos despesas de contrataçã­o. Há, ainda, a possibilid­ade de ampliar as oportunida­des para os grupos que sofrem discrimina­ção e resistênci­a. Por exemplo: os portadores de deficiênci­a podem ter o mercado de trabalho alargado, se a lei permitir a sua contrataçã­o por dois ou três dias por semana. Os profission­ais de alta renda e bom nível educaciona­l podem muito bem acertar as suas condições de trabalho diretament­e com seus empregador­es, evitando os inúmeros conflitos que hoje entopem a Justiça do Trabalho. Nesse sentido, seria fácil reativar o projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional que criou a arbitragem trabalhist­a para desafogar a Justiça do Trabalho. O projeto foi vetado pelo Poder Executivo. Penso que os parlamenta­res ficarão felizes em derrubar aquele veto para ver implantada uma ideia que eles estudaram e aprovaram em 2015.

Em suma, mesmo reconhecen­do a gravidade da situação, penso haver espaço para reverter o quadro atual ao longo dos próximos 12 meses e, com isso, criar um ambiente de negócios atraente e voltado para as necessidad­es de emprego e de renda da família brasileira.

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