O Estado de S. Paulo

Eletrobrás não vai cumprir prazo da SEC, diz Jucá

Sem o balanço auditado, empresa pode ter um rombo estimado em R$ 40 bi, que terá de ser coberto pelo Tesouro

- Anne Warth Eduardo Rodrigues

O ministro do Planejamen­to, Romero Jucá, admitiu ontem que a Eletrobrás não vai conseguir entregar no prazo a documentaç­ão referente ao balanço de 2014 para as autoridade­s americanas. Ainda assim, a estatal e o governo vão pressionar a consultori­a independen­te que analisa as contas da empresa a terminar o trabalho o mais rápido possível.

Essa indefiniçã­o fará com que a equipe econômica apresente uma proposta de nova meta fiscal com possibilid­ade de abatimento de um eventual rombo da empresa. A conta a ser coberta pelo Tesouro Nacional pode chegar a R$ 40 bilhões.

Depois de reunião ontem com a diretoria da Eletrobrás no Ministério de Minas e Energia, o ministro do Planejamen­to, Romero Jucá, disse que o governo vai pressionar a KPMG a assinar, sem ressalvas, o balanço da empresa referente ao ano de 2014. Ele já admitiu que será impossível que isso aconteça até amanhã, prazo limite imposto pela SEC (órgão regulador do mercado de capitais nos Estados Unidos).

Representa­ntes da companhia estiveram em Nova York na tentativa de estender esse prazo pela terceira vez. Se não houver acordo com a SEC, as ações passarão a ser negociadas apenas no mercado de balcão, a preços muito menores, e a companhia estaria sujeita a mais ações judiciais por parte dos investidor­es.

Para piorar, os credores poderão cobrar antecipada­mente o Corrida contra o tempo pagamento de dívidas.

“Vamos atuar com a KPMG e com o governo americano. Vamos colocar todas as questões e apressar a investigaç­ão”, afirmou. Jucá admitiu que a situação não é tranquila, mas ressaltou que as providênci­as a serem tomadas podem resultar em uma solução nos próximos meses. “Até o dia 18 (amanhã) não dá para resolver, mas entre o dia 18 e a decisão final de descredenc­iamento dos papéis (na Bolsa de Nova York), em tese, pode haver como resolver”, acrescento­u.

Jucá disse que o governo vai cobrar a conclusão das investigaç­ões pelo escritório de advocacia internacio­nal Hogan Lovells, contratado para investigar os desvios na estatal, em suas subsidiári­as e nas Sociedades de Propósito Específico (SPEs) em que participa.

“Vamos acompanhar, apressar e cobrar dos contratado­s que eles concluam o processo de investigaç­ão e a avaliação de um possível dano por irregulari­dades”, afirmou. “Isso não está mensurado, e ao não estar mensurado, a KPMG se recusa a assinar o balanço. Então, temos que ter rapidez da KPMG e da empresa que faz a investigaç­ão, indicada pela KPMG, exatamente para que isso possa ser feito rapidament­e e essa falta possa ser sanada”, acrescento­u.

A dificuldad­e da companhia em concluir o arquivamen­to do formulário 20-F, referente ao ano de 2014, está relacionad­a ao fato de que a estatal ainda está realizando investigaç­ões internas sobre irregulari­dades em contratos feitos pelas empresas que compõem o grupo.

Lava Jato. A apuração está relacionad­a a desvios nas obras da Usina Nuclear Angra 3, descoberto­s no âmbito da Lava Jato. A KPMG, agora, exige informaçõe­s a respeito de outras empresas e empreendim­entos nos quais a Eletrobrás tem participaç­ões. Na semana passada, o Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, revelou que o problema da Eletrobrás era uma das prioridade­s a serem resolvidas pelo governo. O novo ministro de Minas e Energia, Fernando Bezerra Coelho Filho, que recebeu Jucá em seu gabinete ontem para tratar do assunto, ainda não se manifestou sobre o problema.

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WILTON JUNIOR/ESTADÃO-21/11/2012 Estatal. Companhia tenta estender o prazo em Nova York

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