O Estado de S. Paulo

Volta da CPMF não resolve o problema, diz Arminio

Ex-presidente do Banco Central disse, em evento nos EUA, que a receita obtida com o imposto é pequena e poderia ser gerada com corte de subsídios

- Cláudia Trevisan

desvincula­ção de receitas orçamentár­ias.

“Existem grandes espaços nas desoneraçõ­es. É preciso olhar para tudo, porque o tamanho do buraco é grande o suficiente para exigir isso”, declarou Fraga depois de participar de evento promovido pela Câmara de Comércio Brasil-EUA em Nova York. Segundo ele, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, está sendo “realista e pragmático e sabe que o maior desafio é do lado dos gastos”. Quando assumiu o cargo, na semana passada, Meirelles disse que a prioridade de sua gestão será o equilíbrio fiscal e não des- cartou a recriação da CPMF.

Se o governo avançar na agenda de reformas, Fraga acredita que a economia poderá reagir no segundo semestre. Ele considera factível a projeção de cresciment­o de 1% em 2017 feita no mesmo evento pelo professor da Fundação Getúlio Vargas e ex-presidente do Banco Central Carlos Langoni. Octavio de Barros, diretor e economista-chefe do Bradesco, projetou expansão de 1,5% para o próximo ano e ressaltou que o índice poderá ser superior se as propostas econômicas forem aprovadas.

Mas Temer tem pouco tempo para implementa­r sua agen- da. Para Langoni, a “janela de oportunida­de” é de apenas 30 dias. Fraga considera esse período “apertado” e observou que o mais importante é o governo indicar quais são as prioridade­s e agir para alcançá-las. “É preciso começar o quanto antes.”

Sem uma clara mudança de rota, o tamanho da dívida pública brasileira em relação ao PIB pode atingir 90% em curto prazo, disse Fraga. “A relação dívida/PIB está um pouco acima dos 70%. Mas com o cresciment­o negativo, a taxa de juros muito elevada e o déficit primário, a trajetória é explosiva.” Com taxa de juros reais de 6% ao ano, Buraco serão necessária­s apenas “algumas paradas” para que ela salte para 90% do PIB, observou.

No cenário desprovido de re- formas, o país terá de fazer um ajuste equivalent­e a pelo menos 15% do PIB nos próximos 15 anos para enfrentar despesas adicionais, estimou Fraga. Sem reformas, o déficit da Previdênci­a chegará a cerca de 7% do PIB em uma década e meia.

Além disso, seria necessária uma economia de pelo menos cinco pontos porcentuai­s do PIB para transforma­r o déficit primário de 2% em superávit primário de 3% do PIB, patamar que pode estabiliza­r a trajetória da dívida pública. “A conta não fecha”, ressaltou Fraga. “Não há CPMF que resolva isso.”

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