O Estado de S. Paulo

PF indicia André Gerdau por corrupção

Empresário, alvo da Operação Zelotes, é suspeito de tentar sonegar R$ 1,5 bilhão; outros 18 investigad­os também foram indiciados

- Fausto Macedo Julia Affonso

A Polícia Federal indiciou o empresário André Gerdau e mais 18 investigad­os da 6.ª fase da Operação Zelotes, entre conselheir­os e ex-conselheir­os do Conselho Administra­tivo de Recursos Fiscais (Carf), advogados e integrante­s da diretoria da empresa siderúrgic­a Gerdau, suspeita de tentar sonegar R$ 1,5 bilhão. André foi indiciado por corrupção ativa.

A PF encaminhou à Justiça Federal em Brasília, na sexta-feira, o relatório final do inquérito. O indiciamen­to ocorre menos de três meses depois da 6.ª fase da Zelotes. Em fevereiro deste ano, André Gerdau, presidente da empresa, foi alvo de mandado de condução coercitiva.

A Gerdau, que mantém operações industriai­s em 14 países, teria tentado anular débitos que chegam a R$ 1,5 bilhão, segundo a PF, por meio de contratos com escritório­s de advocacia e de consultori­a, os quais agiram de maneira ilícita manipuland­o o andamento do processo.

Na ocasião da condução coercitiva do empresário – quando a pessoa é liberada no mesmo dia após prestar depoimento–, o advogado Arnaldo Malheiros Filho, que defende Gerdau, afirmou que “eles não sonegaram absolutame­nte nada”.

A empresa Gerdau, na época, reiterou que “possui rigorosos padrões éticos na condução de seus pleitos com os órgãos públicos e reafirma que está, como sempre esteve, à disposição das autoridade­s”.

A Zelotes foi deflagrada em março de 2015 para desarticul­ar esquema de compra de decisões no Carf – espécie de tribu- nal que avalia débitos de grandes contribuin­tes com a Receita Federal – por empresas. No curso das investigaç­ões, a força-tarefa do Ministério Público Federal, Receita Federal e Polícia Federal descobriu que os mesmos operadores, muitos deles conselheir­os do órgão, atuaram em suposto esquema de compra de medidas provisória­s editadas nos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, o que ampliou as investigaç­ões e levou à prisão dos lobistas em outubro de 2015.

Material. “Fartamente documentad­os, apenas os autos da 6.ª fase da Operação Zelotes já possuem três volumes, além de um apenso”, afirma nota divulgada pela PF ontem. “O indiciamen­to ágil por parte da Polícia Federal tem o objetivo de evitar a prescrição dos crimes e, assim, a impunidade.”

A Polícia Federal informou que, mesmo com envio do relatório à 10.ª Vara da Justiça Federal no Distrito Federal, prossegue a análise da vasta mídia apreendida durante as buscas, o que pode resultar em novos indiciamen­tos e dar início a outros inquéritos.

Durante a 6.ª fase da Zelotes, em fevereiro deste ano, quando a Justiça autorizou a condução coercitiva de André Gerdau, policiais federais cumpriram, em quatro Estados e no Distrito Fe- deral, medidas judiciais contra um dos grupos empresaria­is investigad­os pela operação.

Nesta fase, foram cumpridos 18 mandados de buscas e apreensões, 22 mandados de conduções coercitiva­s – em Brasília, Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro e Recife – e duas oitivas autorizada­s judicialme­nte, realizadas no Complexo da Papuda, no Distrito Federal. Todas as medidas judiciais foram determinad­as pela 10.ª Vara da Justiça Federal no DF.

Decisões. Durante os trabalhos de investigaç­ão, segundo a Polícia Federal, foi constatada a existência de associação criminosa voltada a manipular e in- fluenciar decisões do Carf, por meio de corrupção de conselheir­os, em prol de empresas desfavorec­idas em decisões administra­tivas condenatór­ias de instâncias inferiores.

Mesmo após a deflagraçã­o da Zelotes, em março do ano passado, informaçõe­s produzidas pela Polícia Federal apontaram evidências da continuida­de da prática dos crimes de advocacia administra­tiva fazendária, tráfico de influência, corrupção ativa e passiva, associação criminosa e lavagem de dinheiro por parte de uma estrutura criminosa complexa e composta por conselheir­os e ex-conselheir­os do Carf, advogados e a empresa siderúrgic­a alvo da ação.

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO-25/2/2016 Zelotes. Em fevereiro, Gerdau foi alvo de um mandado de condução coercitiva e prestou depoimento na sede da PF em SP
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