O Estado de S. Paulo

Documentár­io registra a permanênci­a de um ídolo

Em ‘Começaria Tudo Outra Vez’, Hoineff traz imagens atuais e de arquivo, compondo um retrato múltiplo do artista

- Luiz Zanin Oricchio

Começaria Tudo Outra Vez éo título do documentár­io de Nelson Hoineff dedicado a Cauby Peixoto. O cantor faz parte da galeria de tipos polêmicos retratados pelo diretor – os outros são Chacrinha e Paulo Francis. Todos famosos, todos controvers­os, todos capazes de despertar opiniões apaixonada­s e conflitant­es. Talvez Cauby, acima de todos, porque foi um imenso ídolo popular e, ao mesmo tempo, um tanto esnobado por parcela mais sofisticad­a de ouvintes. O filme trabalha nessa ambivalênc­ia.

Ouve um Cauby já um tanto debilitado pela idade, movendo-se e falando com certa dificuldad­e. No entanto, ainda se mostra agudo e corajoso, por exemplo ao falar da homosse- xualidade com toda a franqueza, ele que enfrentou preconceit­os em tempos menos tolerantes que o nosso.

A ideia que se tem de Cauby Peixoto é a de um cantor de voz monumental, que gravou coisas ótimas, mas se descuidou do repertório. Ou talvez o tenha formatado na direção do êxito mais fácil. Em todo caso, o filme não discute questões estéticas. Parece mais preocupado em checar em que consiste a imagem de um ídolo perante o seu público.

Por isso, além da entrevista com o próprio cantor, Hoineff dá a palavra a fãs e mescla imagens atuais a material de arquivo, expondo o contraste do artista quando jovem e já na ma- turidade.

Para desmentir a crença de que os fãs de Cauby pertencem todos à terceira idade, encontra um admirador jovem, no bairro de Olaria, no Rio, um verdadeiro fanático do intérprete de Conceição e Começaria Tudo Outra Vez. É como se satisfizes­se o desejo de juntar as duas pontas da história de um ícone, e mostrasse a durabilida­de de um artista popular cuja carreira começou no tempo da Rádio Nacional. Uma bela homenagem.

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