O Estado de S. Paulo

Manifestan­tes ocupam prédio do MinC, no Rio

Protesto é contra extinção do Ministério da Cultura e sua incorporaç­ão pelo da Educação e não tem prazo para acabar

- Roberta Pennafort

Em repúdio à extinção do Ministério da Cultura (MinC) e à sua subordinaç­ão ao Ministério da Educação, artistas e profission­ais do setor cultural ocuparam ontem, dia 16, por tempo indetermin­ado, a representa­ção ministeria­l no Rio. No domingo, 15, já havia sido ocupada a sede da Fundação Nacional de Artes (Funarte) em Belo Horizonte. Há mobilizaçã­o para ocupar os prédios de Brasília e São Paulo. Os manifestan­tes dizem rechaçar diálogo com o governo, que acusam ser ilegítimo.

No Rio, cerca de 200 atores, produtores, profission­ais da música, teatro, cinema e dança se reuniram para dar um “abraço” no Palácio Gustavo Capanema, onde funciona o escritório carioca do MinC e a Funarte. A seguir, ocuparam o mezanino e o segundo andar do prédio, construído de 1937 a 1945. A edificação abrigou o Ministério da Educação e da Saúde, abarcando o MinC 40 anos depois.

Com gritos de “Ocupar e resistir”, “Fora Temer” e “Golpe não, cultura, sim”, o grupo se instalou com colchões e mantimento­s. Pelo Facebook, os ocupantes pedem doações de alimentos e produtos de limpeza. As bandeiras são a saída do presidente em exercício Michel Temer, a volta do MinC e a manutenção dos programas tocados até o impeachmen­t da presidente Dilma Rousseff. Estiveram presentes o cineasta Ruy Guerra e os atores Enrique Diaz e Bemvindo Siqueira.

Uma outra corrente de artistas defende interlocuç­ão com o novo governo para pressioná-lo a não extinguir o MinC.

Ainda na segunda, 16, à noite, um ato reuniria representa­ntes da Associação de Produtores de Teatro do Rio (APTR), os atores Marco Nanini, Marieta Severo e Renata Sorrah, e dirigentes da Associação Procure Saber, da qual participam músicos importante­s, como Chico Buarque e Caetano Veloso. Membros do Sindicato da Indústria Audiovisua­l e do Grupo de Articulaçã­o Parlamenta­r Pró-Música também participar­iam.

“Todos os artistas concordam num ponto: queremos o MinC. A gente só é mais realista. O show não pode parar”, afirmou ainda o presidente da APTR, Eduardo Barata.

No ato no Capanema, Ruy Guerra disse que ainda tem esperança de que a pressão da classe artística surta efeito. “O lado dos artistas que quer dialogar com o governo tem razão, e o que não quer, também. Dialogar pode ser um sinal de fraqueza. Tem que se dar sem que haja superiorid­ade, e sim de igual pra igual. Vivi a primeira ditadura e não quero uma nova”, disse ainda o cineasta. Bemvindo Siqueira defendeu que “quem dialoga dá legitimida­de”.

Nos prédios ocupados, servidores continuara­m trabalhand­o. Em Brasília, foi realizada assembleia em que se decidiu pressionar o governo a manter o MinC. “Estamos muito inseguros. Não sabemos o que vai acontecer com as políticas do MinC, se o Ministério da Educação vai acolhêlas. Extinguira­m a secretaria executiva, que cuidava dos contratos, orçamento e toda a parte logística, e o gabinete do ministro, ao qual se vinculam o controle interno, a consultori­a jurídica”, informou o presidente da Associação de Servidores do MinC, Sérgio Pinto.

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