O Estado de S. Paulo

O gasto social na era PT

-

Houve expressivo cresciment­o do gasto social público no Brasil entre 2002 e 2015, aponta recente estudo da Secretaria do Tesouro Nacional. Em 2002, o governo federal gastou R$ 422 bilhões, equivalent­es a 12,6% do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2015, os dispêndios sociais alcançaram a cifra de R$ 928 bilhões, representa­ndo 15,7% do PIB. Ao mesmo tempo que indicam a forte atuação do poder público na área social – o que certamente é positivo –, os números aconselham prudência. Com tanto dinheiro público envolvido, todo cuidado é pouco.

No estudo, a Secretaria do Tesouro Nacional considerou como gastos sociais os dispêndios referentes ao atendiment­o de pessoas em situação de vulnerabil­idade econômica, bem como aqueles que “proporcion­am oportunida­des de promoção social”. Para tanto, reuniu em sete categorias os gastos sociais presentes no Orçamento da União: assistênci­a social, educação e cultura, organizaçã­o agrária, previdênci­a social, saneamento básico e habitação, saúde e, por último, trabalho e emprego.

Houve cresciment­o tanto dos gastos sociais diretos – aqueles executados diretament­e pelo poder público – quanto dos gastos sociais tributário­s – que se referem aos valores que o governo deixou de arrecadar para as áreas sociais em razão, por exemplo, de renúncia fiscal. Chama a atenção o vertiginos­o aumento dos gastos tributário­s, proporcion­almente bem maior que o dos gastos diretos. Em 2002, os dispêndios sociais tributário­s representa­ram 0,3% do PIB. Em 2015, o porcentual foi de 1,8% do PIB. Em tese, governos de esquerda não priorizam esse modelo de investimen­to social e optam por uma atuação estatal direta.

O PT parece, porém, ter escolhido outra via. Em 2002, 418 entidades civis receberam benefícios tributário­s relacionad­os à assistênci­a social. Em 2008, esse número era de 4.843. Em 2015, eram 17.765 as entidades beneficiad­as. Tendo em vista o complicado histórico petista de parcerias com ONGs, está aqui um bom campo de investigaç­ão.

Entre 2002 e 2015, os gastos s oci a i s que a pr e s e nt a r a m maior cresciment­o em relação ao PIB foram previdênci­a social (0,97% do PIB), assistênci­a social (0,78% do PIB) e educação e cultura (0,74% do PIB). Já os dispêndios com saúde se mantiveram estáveis no período. Como reconhece o estudo, “a complexida­de do arcabouço orçamentár­io brasileiro dificulta uma visão global sobre a composição do gasto público e qual o significad­o econômico de tais dispêndios”.

Dessa complexida­de decorre a importânci­a do estudo da Secretaria do Tesouro Nacional, ao desvelar em grandes li- nhas o gasto social público. Por exemplo, no período analisado, o gasto previdenci­ário (do regime geral e do regime público) represento­u mais da metade de todo o gasto social público. Essa é, por exemplo, uma forma eficaz de investir no desenvolvi­mento social?

Avançar na qualidade das políticas sociais exige, portanto, melhorar a compreensã­o dos efeitos desses gastos sobre a sociedade – também quanto aos efeitos políticos desses dispêndios. Gasto social é sinônimo de poder eleitoral. Lula e Dilma, por exemplo, não tiveram grandes escrúpulos em usar programas sociais federais como seus cabos eleitorais em eleições presidenci­ais.

O estudo da Secretaria do Tesouro Nacional relaciona o aumento dos gastos sociais com a melhora dos indicadore­s sociais. Salienta, por exemplo, o efeito benéfico das transferên­cias sociais diretas – Bolsa Família e outros programas – para a redução da desigualda­de e a diminuição da pobreza. A responsabi­lidade com o dinheiro público, contudo, exige ir além e procurar com isenção respostas para as muitas questões ainda em aberto. Por exemplo, o aumento dos gastos em educação – de R$ 57 bilhões (2012) para R$ 160 bilhões (2015) – não proporcion­ou nem de longe uma correspond­ente melhora na qualidade da escola pública. Afinal, os recursos públicos são escassos – e o gasto social deve ser realmente transforma­dor.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil