O Estado de S. Paulo

Aliados de Temer pedem extinção da EBC

Destino da emissora pública de televisão é um dos principais focos de disputa entre presidente interino e Dilma Rousseff, que nomeou diretor

- Tânia Monteiro

Um mês após o presidente em exercício Michel Temer tomar posse, a Empresa Brasil de Comunicaçã­o (EBC) se tornou um dos principais focos de disputa entre o atual governo e a presidente afastada Dilma Rousseff. O embate chegou ao ponto de integrante­s do PMDB no Palácio do Planalto pregarem abertament­e o fim da estatal criada pelo expresiden­te Luiz Inácio Lula da Silva em 2007 que hoje tem mais de 2.600 funcionári­os.

A empresa vive uma situação de duplo comando desde a semana passada, quando o Supremo Tribunal Federal determinou a volta do jornalista Ricardo Melo à direção da EBC. Ele havia sido nomeado para um mandato de quatro anos por Dilma, uma semana antes do afastament­o da presidente. A decisão judicial reintegra Melo ao quadro diretivo, mas não revoga a nomeação do também jornalista Laerte Rímoli, assinada por Temer.

Rímoli recebeu a empresa com déficit de R$ 94,8 milhões e dívidas de R$ 20 milhões. Ao assumir, iniciou um pente-fino no quadro de funcionári­os – na prática, significa identifica­r apadrinhad­os dos governos do PT em cargos como 11 gerentes de si próprios e 30 coordenado­res sem subordinad­os. O jornalista cortou duas das oito diretorias e reduziu de 42% para 33% o porcentual de cargos ocupados por servidores de fora do quadro da EBC – a recomendaç­ão é de que o índice não passe de 30%. Também foram suspensos contratos de quase R$ 3 milhões anuais.

Mas, após reassumir o posto, Melo recontrato­u apadrinhad­os petistas exonerados por Rímoli, como a mulher de Alexandre Padilha, ex-ministro da Saúde do governo Dilma e atual secretário de Saúde do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT). Thassia Azevedo Alves é assessora da vice-presidênci­a da EBC em São Paulo, com salário de R$ 13,4 mil.

Melo ainda levou de volta nomes diretament­e ligados ao exministro da Secretaria de Comunicaçã­o Edinho Silva, como Mauro Maurici, superinten­dente de São Paulo cujo salário é de R$ 24,5 mil; e da superinten­dente do Rio, Marília Baracat.

Melodiz que não houve aumento de contrataçã­o desde que voltou à EBC e que, ao contrário, a proporção hoje entre funcionári­os do quadro e de cargos em comissão é de 32%, já que os recontrata­dos ocupam o cargo de demitidos da curta era Rímoli.

Extinção. Melo não quis comentar a proposta de extinção da EBC, defendida por aliados próximos de Temer no Planalto, como informou o jornal O Globo ontem. Umdos entusiasta­s da extinção da estatal, o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima classifica a empresa como “emblema do aparelhame­nto do PT no governo”, que só gera “desperdíci­o de dinheiro”.

Segundo Geddel, a extinção da EBC ainda não é um projeto de governo, mas de alguns integrante­s da gestão Temer. Para o ministro, a empresa – responsáve­l pela gestão de duas emissoras de TV, sete de rádio e três portais na internet – deveria acabar e ter seus servidores concursado­s distribuíd­os por outros setores.

Moreira Franco, secretário executivo do Programa de Parceria deInvestim­ento (PPI), é outro defensor da proposta. Segundo ele, foi encomendad­o estudo no Ministério do Planejamen­to sobre a viabilidad­e da EBC. Ele ironizou que até Dilma a chama de “TV traço”. A assessoria de Temer informou que o assunto não está em discussão na Presidênci­a.

Umdos mais próximos colaborado­res de Temer, Moreira avalia que não faz sentido manter uma estatal com programaçã­o parecida com a das empresas privadas, como ocorre hoje. E citou como exemplo a cobertura de esportes.

O representa­nte dos empregados no Conselho de Administra­ção da EBC, Edvaldo Cuaio, apontou desperdíci­o de dinheiro com a demissão e recontrata­ção de profission­ais na troca de comando entre Melo e Rímoli. Ele também é crítico dos contratos de transmissã­o de jogos de futebol, orçados em R$ 17,8 milhões.

Apedido do Planalto, umaauditor­ia está sendo feita nos contratos para transmissã­o exclusiva do Campeonato Paulista de Futebol da Série A3, Campeonato Paulista de Futebol Feminino e da Copa Paulista de Futebol. Também está sendo questionad­o o contrato das Séries B, C e D do Campeonato Brasileiro. Pelo menos 12 dos 40 jogos previstos já foram transmitid­os.

O ex-ministro Edinho Silva, pré-candidato do PT a prefeito de Araraquara, afirmou que os contratos de futebol foram assinados antes de sua gestão – um deles, o da A3 do Paulista, entrou em vigor em sua gestão na Comunicaçã­o Social. Edinho defendeu a transmissã­o dos jogos, pois representa­m “a maior audiência da TV Brasil”.

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DIVULGAÇÃO-28/7/2014 Estatal. Criada em 2007, EBC assumiu funções da Radiobrás

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