O Estado de S. Paulo

Kuczynski busca elo com fujimorism­o

Presidente eleito do Peru procura chefe de gabinete que tenha interlocuç­ão à esquerda e à direita para ter governabil­idade no Congresso

- Luiz Raatz DESAFIOS

Eleito presidente do Peru por uma diferença de apenas 0,2 ponto porcentual, Pedro Pablo Kuczynski tem pela frente a difícil tarefa de governar o país com a oposição das duas maiores bancadas do Congresso: o conservado­r Fuerza Popular, de Keiko Fujimori, e a esquerdist­a Frente Ampla, de Verónika Mendoza. Logo após a definição de sua vitória, na quintafeir­a, PPK, como é conhecido, moderou o discurso de campanha e buscou pontes entre os dois lados.

As primeiras declaraçõe­s do presidente eleito foram nesse sentido. Kuczynski afirmou que pretende nomear um primeiro-ministro – que no Peru funciona como uma espécie de chefe de gabinete – que tenha trânsito à direita e à esquerda do espectro político. Além disso, prometeu deixar para trás a retórica agressiva da campanha, principalm­ente na reta final do segundo turno, quando acusou Keiko de tentar implementa­r “um narcoestad­o que nos vai matar a todos” no país.

O Fuerza Popular terá 73 as- sentos no Parlamento e tem grandes chances de eleger o presidente do Legislativ­o. Na sexta-feira, PPK negou que indultaria o pai de Keiko, Alberto Fujimori, condenado a 25 anos de prisão por corrupção e abuso contra os direitos humanos. O novo presidente disse, no entan- to, que não vetaria uma lei de anistia aprovada pelo Congresso que incluísse mais gente.

“A primeira coisa que temos a fazer é criar um ambiente no qual possamos virar a página”, disse PPK. “Agradeço à senhora Fujimori. Na democracia são bem-vindas todas as vozes.”

Keiko, após aceitar a derrota, prometeu uma oposição consciente e democrátic­a, mas garantiu que fará oposição ao governo de Kuczynski. “Nossa linha mestra será lutar pelo desejo dos 8 milhões de peruanos que votaram por nós”, disse.

Ambos compartem visões si-

Gabinete ministeria­l PPK negocia a montagem de seu ministério e deve abrir espaço para outros partidos políticos e tecnocrata­s em postos essenciais do governo

Oposição Tanto Keiko Fujimori, que teve 40 mil votos a menos que Kuczynski, quanto Verónika Mendoza, terceira colocada no primeiro turno, prometeram fazer oposição ao governo

Minoria O partido de Kuczynski tem apenas 18 de 130 deputados no Congresso. O bloco do fujimorism­o conta com 73 milares sobre o manejo da economia. Na reta final da campanha, os dois candidatos também prometeram adotar uma linha dura contra a criminalid­ade urbana, principal problema do país apontado por eleitores peruanos em pesquisas de opinião.

Outro fator que pode incidir na montagem do governo é o fato de que o partido de PPK, o Peruanos Por El Kambio, foi montado praticamen­te com o objetivo de disputar as eleições presidenci­ais e não conta com um alcance significat­ivo no interior do país, ao contrário do Fuerza Popular de Keiko.

“PPK está em uma posição muito difícil, porque tem apenas a terceira bancada do Congresso e terá de negociar”, disse ao Estado o analista Eduardo Dargant. “PPK por outro lado tem de considerar fazer alianças se quiser governar com um Congresso tão adverso.”

Com o Congresso nas mãos, o fujimorism­o tem em tese o poder de aprovar leis e barrar a nomeação de ministros. O esforço de inserção do partido como ator legítimo na política peruana, no entanto, pode fazer com que o partido aceite negociar.

A Frente Ampla, por outro lado, que defendeu voto útil em PPK contra Keiko, já afirmou que será oposição a ambas frentes políticas dentro do Parlamento. “Faremos oposição a ambos do primeiro dia”, disse Vérónika Mendoza.

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Mariana Bazo/REUTERS-2/6/2016 Movimento. Apesar de derrota na eleição presidenci­al, Keiko terá domínio do Legislativ­o

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